Balzac revisitado

Balzac revisitado

Chegam às livrarias Tratados da vida moderna – reunião de textos escritos entre 1830 e 1839 – e tradução inédita de Eugénie Grandet

Wilker Sousa

Em sua obra, Honoré de Balzac (1799 – 1850) retratou, como poucos, os vícios, costumes e virtudes da sociedade francesa do século 19. Entre 1830 e 1839, o autor escreveu breves textos, posteriormente publicados na imprensa de seu país. Com descrição lúcida e bem-humorada, traçavam um painel antropológico multifacetado do cotidiano francês e preconizavam a temática e o estilo consagrados posteriormente em A comédia humana.

Organizados por Leila de Aguiar Costa, pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e doutora em Literatura Francesa, tais textos chegam às livrarias brasileiras sob o título de Tratados da vida moderna. “Todos os textos ali reunidos antecipam o motus que regerá A comédia humana, isto é, a intenção de dar a conhecer o homem moderno que participa, por vezes, dos movimentos da vida francesa do século 19 em suas mais variadas facetas”, explica Leila.

 O primeiro deles, publicado em 1930, é Fisiologia do vestuário. Ao discorrer sobre o uso de gravatas e paletós, Balzac define o homem: “A gravata é o homem, é através dela que o homem se revela e se manifesta”. Logo, cada tipo de gravata corresponderia a um tipo humano. A classificação por meio dos costumes estende-se a Fisiologia gastronômica, o segundo dos textos. Desta vez, Balzac concebe a relação entre homem e alimentação a partir de qualidades físicas e morais.

Na sequência, o Tratado da vida elegante e a Teoria do mover-se. No primeiro, à maneira cientificista, tão em voga no século 19, o autor analisa o homem sob três categorias: aquele que trabalha, o que pensa e o que nada faz. A vida elegante é vista como prova da imobilidade social, uma vez que preocupação central é apenas distinguir-se do outro. Em Teoria do mover-se, Balzac observa a linguagem do movimento dos parisienses, de modo a descobrir os vícios da sociedade. Para o autor, todo movimento era “uma expressão que é própria da alma”.

Por fim, o Tratado dos excitantes modernos, no qual cinco substâncias são apontadas como meio de envenenamento moral e físico: a aguardente, o açúcar, o chá, o café e o tabaco. Tais substâncias simbolizavam os excessos da vida moderna e influenciavam de maneira direta o destino do homem.

“Embora falemos de textos que nem sempre são muito conhecidos do público, é inegável que os Tratados [da vida moderna] se oferecem ao
leitor como uma ‘antropologia completa’, que se mostrará exuberante em todo o edifício de A comédia humana.”, comenta Leila de Aguiar Costa.

Eugénie Grandet

O romance Eugénie Grandet, tido como um dos mais significativos da obra balzaquiana, ganha tradução inédita, feita por Marina Appenzller. A edição traz ainda apresentação escrita por Pierre Citron, reconhecido estudioso de Balzac, professor de Literatura Francesa na universidade  Sorbonne na década de 1970. 

Para Glória Carneiro do Amaral, professora de pós-graduação na Universidade Mackenzie, “Eugénie Grandet é certamente um dos grandes romances de A comédia humana. É importante especialmente porque enfoca o grande tema do dinheiro a partir da perspectiva da província. Nele, Balzac cria duas grandes personagens: a melancólica, porém firme, Eugénie Grandet e o velho Grandet, que se insere na galeria dos grandes avarentos que, na literatura francesa, tem seu exemplo máximo no Harpagon de Molière”, conclui.

Tratados da vida moderna
Honoré de Balzac
Trad. e org.: Leila de Aguiar Costa
Estação Liberdade
240 págs. – R$ 37

Eugénie Grandet
Honoré de Balzac
Trad.: Marina Appenzeller
Estação Liberdade
264 págs. – R$ 39

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