Atividade jurássica
Marcos Flamínio Peres
Principal gramático em atividade no país, Evanildo Bechara fez ao longo de sua palestra da quarta de manhã uma defesa emocionada do estudo histórico da língua portuguesa em escolas e universidades. Para ele, esse preconceito está levando o Brasil a perder o sentido histórico da evolução de sua língua.
A partir dos anos 60, “lecionar gramática passou a ser visto como uma atividade jurássica”, afirma Bechara. E complementa: “A verdade é que, se não está sendo estudada, a língua portuguesa não está sendo descrita” – e, logo, não dispomos mais de retratos de sua evolução nas últimas décadas, disse.
O pior, alerta Bechara, é que, por não ser mais objeto de estudos, a gramática histórica não se beneficia dos avanços evidentes que vêm ocorrendo em disciplinas afins, “como a análise do discurso e a filosofia da linguagem”.
Para Bechara, que é membro da Academia Brasileira de Letras, os linguistas que criticam o estudo da evolução histórica do português confundem o plano da língua – que é universal – e o plano do texto – que é histórico.
Uma das razões para essa má compreensão foi o avanço do gerativismo transformacional, cujo expoente é o norte-americano Noam Chomsky. “Ele é muito importante”, ressalta Bechara, “mas acabou atribuindo peso demais à esfera do pensamento, esquecendo-se da realidade da língua”.
(4) Comentários
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A matéria é tão grande que até dá preguiça de ler. Sacanagem, cadê o resto ou pelo menos um link pra algo mais completo?
Faz sentido. Se estudássemos mais a evolução histórica da língua, e o ensino de base se beneficiasse desse estudo, provavelmente não teríamos que continuar lidando com o preconceito linguístico (nem precisaríamos fazer de um fato científico uma bandeira). Quem sabe todos pudessem então ver e compreender que a língua portuguesa não vai “morrer” nem “ser assassinada”… Ou melhor, se não morrer todos os dias é que não vai continuar viva (como o cristalizado latim, por exemplo).
Um tema desta natureza merece uma matéria mais aprofundada. Que tal um dossiê, para uma futura edição impressa?
Temos que acabar com o analfabetismo funcional no Brasil.
Depois podemos pensar em ensinar GRAMÁTICA.