As vozes das cicatrizes: Violências, perdas e lutos
Mulher caminha em meio à enchente em Porto Alegre, em junho (Bruno Peres/Agência Brasil)
“Permita que eu fale
Não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz
Sabe o que resta de nós?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale .”
AmarElo (Sample: Sujeito de Sorte), Felipe Vassão, DJ Duh, Emicida e Belchior
Começamos o texto com essa citação, parte da música cantada por Emicida em seu álbum AmarElo, com a intenção de abrir espaços para falar das cicatrizes, suas histórias e memórias deixadas por perdas advindas de rompimentos bruscos e repentinos. Perder um ente querido, ter a casa invadida por pessoas e/ou pela força das águas e, de repente, não ter mais o mundo seguro e conhecido como de costume. Ser obrigado a viver provisoriamente em um alojamento ou voltar para a casa onde a violência aconteceu e “seguir a rotina” é uma situação potencialmente traumática que tem imbrincado em si o luto, seja pela morte concreta, seja pelas perdas simbólicas.
Falamos, então, de perdas e mortes escancaradas que acontecem de forma repentina, com rompimento brusco, sem máscaras e na presença de qualquer pessoa, não importando quais as regras sociais preestabelecidas no território. Como exemplo, trazemos as enchentes que acometeram em torno de 90% das cidades do estado do Rio Grande do Sul em maio de 2024, segundo o Boletim da Defesa Civil, levando famílias a ficarem à mercê das águas que subiram rapidamente e levaram mobílias, documentos, fotos-lembranças e, em alguns casos, casas; crianças ficaram ilhadas em escolas; pessoas e animais morreram soterrados e/ou afogados.
A ruptura vivida nesse tipo de experiência re
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