Antídoto da filosofia
O filósofo Theodor Adorno (Reprodução)
De todas as obras de Theodor W. Adorno (1903-1969), nenhuma exige maior coragem intelectual do que a Dialética negativa, publicada originalmente em 1966. Marco Casanova, tradutor desta versão brasileira, foi tão sério quanto deverá ser o leitor ao apreciar a exigência interna da obra quanto a um conhecimento das básicas questões da metafísica ocidental, sem as quais dificilmente será compreendido o objetivo da mais cáustica das críticas jamais feitas em relação à tradição filosófica. Ao mesmo tempo, quem quiser compreendê-la não deverá esquecer o que diz o próprio Adorno sobre a relativa seriedade do pensamento que, não sendo ingênuo, sabe que não toca em seus assuntos, mas tem que falar como se os tocasse.
Pois é dessa distância entre o pensamento e seus objetos que Adorno trata em sua dialética. O autor se preocupa em justificar o título no qual a expressão “negativa” é associada a um termo tão caro à tradição filosófica quanto hermético ao senso comum, como é o termo “dialética”, que, desde Platão, assumiu feições indevidamente positivas. “Dialética negativa” é a expressão perturbadora de uma dialética invertida em que o tema da contradição entre sujeito e objeto, teoria e prática, pensamento e realidade faz pesar o objeto, a prática e a realidade. A volta ao “filosofar concreto” não é mais do que justiça necessária contra a abstração do método filosófico tradicional, que apenas ameaça referir-se às coisas quando, na verdade, fala apenas de si mesmo.
Por isso, a dialética negativ
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