Ana Cristina Cesar: a poesia no limite
Ana Cristina Cesar em março de 1983, sete meses antes de sua morte (Foto: Lewy Moraes/Folhapress)
Ana Cristina Cesar foi tão breve quanto vasta. O tempo curto de existência – 31 anos, interrompidos no dia 29 de outubro de 1983 – deixou um rastro duradouro na literatura brasileira.
Foi aluna meticulosa e poeta indócil. Conheceu pormenores do cânone e os rigores do fazer poético, mas também desprezou o academicismo barato. Nos cadernos manuscritos, que se converteram em objetos de análise da crítica, um quê de ordem e desvio: anotações de aulas, ideias, rabiscos, desenhos, rasuras, versos soltos.
Seu nome apareceu com mais vigor em 1975, quando Heloisa Teixeira (então Buarque de Hollanda) publicou a coletânea 26 poetas hoje. Os livrinhos de poesia circulavam então em papel offset ou mesmo mimeografados, com o cheiro do álcool nos folhetos mambembes. “Trata-se de um movimento literário ou de mais uma moda? E se for moda, foi a poesia que entrou na moda ou foram os poetas?”, pergunta Heloisa no prefácio.
A máquina de reproduzir textos deu o nome àquele esboço de movimento: a geração mimeógrafo trazia algo de coloquial e mesmo transgressor, como ecoando o pouco caso dos modernistas com a métrica e a correção parnasiana. Ao mesmo tempo, contudo, reconhecia a tradição e duvidava do descarte gratuito do formalismo.
A poesia confundida com a vida importaria uma linguagem vivida, mais ao rés do asfalto que aos compêndios de estilo? Ana Cristina Cesar foi uma expressão desse conflito insolúvel entre a norma e seu contrário.
Nos 40 anos da morte da escritora carioca, a Cult publica dois artigos que analisam fonemas, pala
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