A tarefa de resistir
'Agora e as oportunidades' (1991), de Leonilson; obra exposta na mostra 'Queermuseu' (Cortesia Projeto Leonilson)
A filosofia tradicional teme a arte e por isso almeja seu controle. A filosofia foi até a arte para perguntar qual é a sua verdade, ou seja, se ela é capaz de nos ajudar a compreender o mundo e de contribuir para a nossa convivência ética e política. Platão retornou com um sonoro “não” como resposta, a arte nos afasta da verdade e é uma ameaça para a pólis, pois desperta nossos instintos mais irracionais e faz com que os desejos individuais se sobreponham aos interesses coletivos. Toda vez que dizemos a uma criança “Não faz arte!”, é a voz de Platão que ecoa em nós, associando muito rapidamente a imaginação artística com desordem, imoralidade, insubordinação. Já Aristóteles, seu brilhante aluno, defendia que “sim”, a arte pode ajudar a trazer conhecimentos devido a sua proximidade com o universal e, sim, contribui para a saúde moral dos indivíduos e da sociedade através do efeito purificador da catarse. A lição do estagirita é que a arte deve ser tolerada e até mesmo incentivada na medida em que é útil. Toda vez que uma entidade financiadora, privada ou pública, exige alguma contrapartida social para apoiar um projeto de arte, é a voz de Aristóteles que ecoa nos editais, relacionando arte muito rapidamente com ordenamento do mundo, aperfeiçoamento dos costumes e até apaziguamento dos conflitos sociais.
A verdade da arte é não ter verdade alguma. Ambos, Platão e Aristóteles, estavam errados. A arte que segue um fim foi domesticada, capturada, enfraquecida, virou propaganda ou evangelização. A arte não tem n
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