A psicanálise, um estranho no ninho

A psicanálise, um estranho no ninho
O psicanalista Sigmund Freud. (Foto: domínio público)
  Freud não é Dalí. Quando o movimento surrealista, sob a batuta de André Breton (1896-1966), declarava com ardor sua afinidade com as ideias desenvolvidas por Sigmund Freud, em particular em relação aos sonhos, o jovem médico protestava. Foi com indiferença que ele recebeu o emissário, Salvador Dalí (1904-1989), enviado a Viena para encontrá-lo. Freud não se propunha a criar um movimento intelectual com a intenção de incomodar, provocar, contestar e inovar parâmetros estabelecidos da ciência, da moral e da religião na cultura ocidental. Freud foi um estudante de Medicina e um jovem médico com ambições grandes, alguém que desejava se tornar famoso fazendo descobertas importantes, mas certamente situadas dentro dos marcos estritos da pesquisa científica clássica. Foi assim que, com 20 anos, fez suas primeiras pesquisas dissecando as glândulas sexuais das enguias, em Trieste, sendo então admitido no laboratório de Ernst von Brücke (1819-1892), considerado o pai da Fisiologia na Áustria. Trabalhou durante alguns anos ali. Fez estudos anatômicos sobre o sistema nervoso da lampreia, tendo chegado perto da descoberta do que Heinrich Wilhelm von Waldeyer (1836-1921), alguns anos depois (1891), chamaria de neurônio. Brücke era o representante em Viena de um grupo de cientistas que, em torno de Hermann Helmholtz (1821-1894) e de Emil du Bois-Reymond (1818--1896), afirmava a convicção de que não só é possível, mas necessário chegar ao conhecimento de fenômenos de qualquer natureza, portanto biológicos e também psicológicos, estabel

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