Privado: A obscena senhora H.

Privado: A obscena senhora H.

André Silva

“Mal se começa a falar de Hilda Hilst. A obra dela é grande, complexa, e ainda está por ser descoberta em sua máxima grandeza”. O comentário de Alcir Pécora, professor de Teoria Literária da Unicamp, ilustra a necessidade de eventos como o que acontece na quarta e na quinta, dias 29 e 30, na Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo. O colóquio Ter sido. Estar sendo. acontece no epílogo da greve estendida da USP, convidando ao aprofundamento nos escritos da autora.

Pécora abre a sequência de falas com a conferência “Hilda menor”: “Ela escreveu textos em prosa de ficção, poesia, crônica e teatro. Acho que atinge alto nível de realização nos dois primeiros, mas nos dois outros o resultado é menos importante – por isso chamo de ‘Hilda menor’. Vou tentar descobrir ali justamente pontos que permitam conhecer tanto os limites de sua produção dramatúrgica e cronística como a relevância que ganham para o êxito na prosa de ficção”, explica. Além do professor da Unicamp, apresentam trabalhos também os estudiosos da casa, Luisa Destri, Ronnie Cardoso e Jaime Guinzburg; Paloma Vidal, da Unifesp, e Michel Riaudel, da francesa Universidade de Poitiers.

As falas serão pautadas por três mesas redondas introdutórias: ‘Intenções’, ‘Extensões’ e ‘Encenações’. “A Hilda é uma autora que trabalha com poemas que são absolutamente místicos e elevados, até poemas francamente pornográficos. É uma autora que ‘pegou aqui, escapou ali’. A persona literária dela é muito intensa e muito polêmica”, de acordo com a organizadora do evento, a professora Eliane Robert Moraes. É esta polêmica que motiva o segmento “Intenções”, que investiga a essência existente sob o suposto hermetismo e as sinuosas entrevistas da autora. Já “Extensões”, explica Moraes, “puxa a obra da Hilda para fora dela mesma”: para isso, conta com falas de Paloma Vidal, investigando o diálogo de Hilst com o escritor Caio Fernando Abreu, e Jaime Guinzburg, que enfoca na violência na obra da autora.

Por fim, ‘Encenações’ coloca em evidência as novas interpretações e adaptações artísticas, que, de acordo com a organizadora, vêm florescendo recentemente: “Me surpreendeu o número grande de encenações no teatro, de elaborações de coreografias, adaptações para o cinema… Ela teve um chamamento para outras artes que é digno de nota”. As conversas, depoimentos e encenações giram em torno do diretor, autor e coreógrafo Donizeti Mazonas, que atualmente encena o espetáculo hilstiano “Osmo” no SESC Ipiranga, e da diretora Gabriela Greeb, que desenvolve o documentário poético “Hilda pede Contato”.

Ter sido. Estar sendo é mais uma chance de discutir tudo o que a autora traz de mais inovador, valioso e obsceno, como o recheio de seu último livro publicado em vida, Estar sendo. Ter sido., sobre o qual a a professora Moraes comenta: “É justamente o momento dela em final de vida e trabalha totalmente na fusão de gêneros: tem prosa, poema, diálogo, alto lirismo e de repente desce pra baixa pornografia. O colóquio é isso: o que ela foi, a presença desta figura tão importante, e, depois da morte dela, como está sendo.”

Colóquio Hilda Hilst – Ter sido. Estar sendo.
Onde: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Prédio de Letras, sala 102
Quando: 29 e 30 de outubro
Quanto: grátis
Info: http://dlcv.fflch.usp.br/node/979

 

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Novembro

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