Privado: A noiva vampira
por Mircea Eliade
O sr. Nazarie passou a manhã passeando a esmo pelos campos. Seus pensamentos estavam longe da pré-história. Aliás, nada lhe incutia a esperança de realizar alguma escavação de sucesso naquelas planícies demasiado achatadas e monótonas. Ao norte do casarão, na direção do vilarejo, começavam as mamoas, mas o sr. Nazarie tomou de propósito o caminho contrário. Ainda estava muito bonito por ali, antes da lavoura de outono. Nenhuma nuvem, nenhuma sombra por toda aquela extensão e, apesar de tudo, o sol não queimava, pássaros desconhecidos se alçavam aos céus, ouviam-se grilos e gafanhotos. Um silêncio imenso, vivo, móvel. Até o passo humano se dissolvia naquela massa musical de minúsculos sons que constituíam ao mesmo tempo o silêncio e a solidão do campo. “A gloriosa planície valáquia” – sublinhou o sr. Nazarie. “Mais duas ou três semanas, e as férias terão terminado definitivamente. Bucareste, exames dos estudantes, escritório de trabalho. Se ao menos conseguirmos ter êxito em Balanoaia”...
Voltou ao casarão poucos minutos antes da hora do almoço. Encontrou Simina passeando sozinha no jardim.
– Bom dia, senhorita! – cumprimentou-a cordialmente.
– Bom dia, senhor professor – respondeu a menina, sorrindo. – Dormiu bem?... Mamãe vai lhe perguntar a mesma coisa, mas eu queria perguntar primeiro...
O sorriso transformou-se imperceptivelmente num riso breve, abafado. O professor não conseguia desviar os olhos da figura incomparavelmente bela. Lembrava uma boneca; uma beleza tão perfeita que parecia arti
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