"A leitura ?deve atrair pela leitura"
Eles ainda não são suficientes, como acredita a professora Noemi Jaffe, mas o número de festivais literários brasileiros vem aumentando a cada ano. Doutora em literatura brasileira pela USP e autora de Ver Palavras, Ler Imagens (Global) e Todas as Coisas Pequenas (Hedra), entre outros, Jaffe acredita que deveria ser criada uma “cultura de leituras públicas em livrarias, em bares, pelas ruas. Não somente em festivais pontuais, mas ao longo de todo o ano”, como afirma na entrevista a seguir.
Os festivais literários ampliam o hábito da leitura?
Acredito que sim. Existe a difusão de novos autores, de autores até então desconhecidos e de autores consagrados que, com a divulgação, mantêm seu trabalho reconhecido. O contato com os autores, suas opiniões e leituras atiça a curiosidade do leitor.
Como fazer para manter o interesse das pessoas pela leitura depois que os festivais chegam ao fim?
Acho que eles deveriam ser exclusivamente literários (ou predominantemente literários), sem o chamariz de shows e vendas de suvenires para atrair possíveis leitores. A leitura deve atrair pela leitura. Acredito que, quando um evento é bem realizado e o público se sente estimulado a ler, a leitura vai aos poucos se tornando um hábito. Além de festivais, deveria também ser criada uma cultura de leituras públicas em livrarias, em bares, pelas ruas. Não somente em festivais pontuais, mas ao longo de todo o ano.
O Brasil tem festivais em número suficiente?
Ainda não, embora esse número venha aumentando a cada ano. Deveria haver mais, especialmente nas cidades pequenas, promovidos por governos e editoras locais, com a vinda de autores de cada região, além de outros vindos dos grandes centros.
O que estou ouvindo Marcelo Jeneci Uma prova de que a canção está mais viva do que nunca. O que estou lendo Doutor Pasavento (Cosac Naify), de Enrique Vila-Matas. É um escritor cujo desejo é desaparecer e, por isso, acaba assumindo outras personalidades. São centenas de citações ?e colagens a serviço ?de uma reflexão sobre ?a ética do reconhecimento e da fama. O último filme que vi Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami. O original ?e a cópia são mais ?semelhantes do que ?julga uma moral muito fundada no mercado. |
(2) Comentários
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A LEITURA COMO ARMA – De fato, a bienais e festivais literários vem aumentando, contudo, como alerta a professora Noemi Jaffe, o interesse pelo livro parece diminuir. O hábito da leitura começa desde a tenra idade. Iniciativas como a de Mário de Andrade e sua biblioteca ambulante, ou de Monteiro Lobato popularizando a vendo do livro contribuíram e muito para a formação de leitores em determinada época. Contudo, hoje a sedução da televisão e da internet é de apelo muito forte. Além disso, temos o problema do custo final do livro, ainda muito caro no Brasil, e poucas edições de bolso. Quase todas as editoras seguem o caminho de edição de livros com capas luxuosas, o que encarece o livro, ainda mais se for obra estrangeira traduzida. E os livros infantis, para um público em desenvolvimento, são muito caros devido ao padrão das ilustrações. Como citado na matéria, “focar” no livro, fazer dele o produto principal, e não apenas mais um complemento dentre tantas “atrações” nos festivais literários e bienais… Sempre ao fim das bienais, quando do último dia, há uma tradicional liquidação, e aí sim vemos o público comprando, muito… O que não garante que vão ler tudo, mas ao menos há o interesse. Os descontos poderiam ser maiores, talvez com o subsídio do governo… Caso a pensar, mas tem de haver interesse. Afinal, um povo sem leitura, sem consciência, é muito mais fácil de ser manipulado pelos diversos interesses escusos…
Ao ler este artigo, lembrei-me da maneira como a Feira do Livro de São Borja e tantas outras iniciativas para estimular a leitura vêm sendo tratada nas últimas edições – um carnaval de artistas e músicas e alunos e crianças e jovens, que vão procurar o próximo namoro ou “ficante”, e empresários loucos por lucros maiores que tentam vender seus livros extremamente caros em comparação à internet. Com isso, parte das novas gerações de leitores da cidade cresce lendo livros como “Prepúcio (Crepúsculo)” e ignoram, ou consideram chatas, obras geniais como As Aventuras de Tom Sawyer, para ficar num simples e conhecido exemplo, deixando-as criando poeiras nas prateleiras das bibliotecas. Muita gente vai dizer que estou errado, que muitos jovens leitores não são assim e têm bons hábitos de leitura. Porém, digo que realmente poucos seguem essa linha. A maioria, como se pode observar em qualquer pesquisa sobre os leitores jovens de São Borja, prefere leituras fáceis, como preferem assistir programas sem qualidade (acredito que não preciso citar nomes, suas mentes farão uma busca automaticamente por exemplos da tv aberta) e filmes de muita ação, quebradeira, violência e paixões a dar e vender (também não preciso citar exemplos). Enfim, muitos parecem não apreciar obras (filmes, livros, programas) que os estimulam a pensar. Pode-se perceber isso nas prateleiras das livrarias e locadoras desta cidade. Experimente comparar a quantidade de obras (livros, filmes) clássicas, ou que fazem você exercitar mais a sua cachola, à de blockbusters. Você verá que há um número extremamente pequeno numa das pontas. Se perguntar ao dono da livraria ou da locadora, ele simplesmente lhe dirá que a maioria das pessoas procura blockbusters.