A invisibilidade dos monumentos
Monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, Rio de Janeiro (Divulgação)
No dia 20 de outubro de 2014, o monumento a Zumbi dos Palmares na Praça Onze no Rio de Janeiro amanheceu pichado como inúmeras vezes nos últimos anos. A triste novidade foi o símbolo nazista, a cruz suástica inscrita na testa da figura de bronze. Ao que tudo indica, a escolha do símbolo pelos pichadores não sinaliza o pertencimento a um possível grupo neonazista. O gesto de barbárie foi assumido como ignorância pelos autores e parece indicar um agregado de perversidade simbólica ao desejo de demonstrar poder. O símbolo pichado no monumento, situado no bairro que viu o samba nascer, distancia-se de sua carga histórica e é utilizado como aposta em sua potência máxima de agressão. Fato é que nos últimos anos, o monumento a Zumbi dos Palmares vem sendo pichado na proximidade do dia da consciência negra – 20 de novembro – escolhido por ter sido o dia do assassinato do líder quilombola ocorrido em fins do século 17. O monumento a Zumbi existe no espaço da cidade desde 1986, enquanto o monumento temporal – o feriado – instituiu-se em nosso calendário ao longo de um processo iniciado em 1971, mas oficializado apenas em 2011. O curioso é que por caminhos tortos – e totalmente condenáveis no que diz respeito à suástica – diferentes pichadores vêm trazendo regularmente o monumento de Zumbi aos jornais na proximidade do feriado, produzindo uma comemoração negativa que confere à obra curiosa visibilidade, carregando-a de signos contraditórios, suscitando protestos e reflexões.
Em 1927, o escritor austríaco Robert Musil observava,
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