Além da fachada de igualdade: A violência de gênero no trabalho

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Além da fachada de igualdade: A violência de gênero no trabalho
  No grande prédio comercial de paredes espelhadas, que refletem a imagem de progresso, um levantamento recente revelou uma conquista: foi alcançada paridade de gênero entre as pessoas que ali trabalham. Estaria, assim, superada a questão de gênero?. Depois de checar se está tudo bem com seu bebê que ficará aos cuidados da irmã mais velha, Maria pega o ônibus às 4h10, horário calculado com precisão para chegar ao ponto sem esperar muito naquele local mal iluminado. Françoise Vergès diria que Maria, como outras mulheres negras, ‘abre’ a cidade. Como é cedo, geralmente consegue um banco alto e evita contatos inconvenientes quando o ônibus se enche. Ela usa roupas largas e segura sua mochila no colo, hábito que desenvolveu desde jovem, talvez por ter aprendido a se proteger de algo que não consegue identificar com clareza. Chega ao seu local de trabalho por volta das 6 horas para ter tempo de se trocar, pegar seu material e começar a trabalhar às 6h30. O prédio é aberto às 7 horas, mas o pessoal do andar que é de sua responsabilidade só chega às oito, quando ela já deve ter limpado as mesas dos escritórios. Maria gosta de trabalhar em um prédio tão bonito, só estranha o fato de o local não ter luz antes das sete. Já se acostumou com a penumbra do vestiário, e, no verão, o sol nasce cedo, permitindo circular pelos corredores antes que outras pessoas cheguem. Caso contrário, ela deve seguir a orientação de sua supervisora: não olhar nos olhos nem dirigir a palavra a ninguém. Tudo corre conforme o esperado até que Maria ouve

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