Toda mulher merece amar outra mulher
Edição do mês
A psicanalista alemã Karen Horney (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Lembro-me da primeira vez que li a frase que escolhi para o título deste texto em um bar descolado de São Paulo. Era um adesivo ou um lambe-lambe, não sei direito. Ao relê-la, o que me vem à mente não é o lugar supostamente da moda onde eu estava, mas a sensação ambígua de achá-la tão óbvia quanto inusitada, talvez pelo contexto mesmo em que se encontrava.
Isso provocou uma série de associações, desde “ah, finalmente um discurso lésbico circulando nesses lugares”; passando por “qual é mesmo a autora feminista a que essa frase me remete?”; até um inesperado “puxa, como eu demorei para reconhecer e amar as mulheres da minha vida como mulheres… enquanto mulheres”.
Não tive más experiências com as mulheres da minha vida e posso dizer, com alguma segurança, que sempre as amei, enquanto pessoas. Diria até que tive o privilégio de crescer com modelos de identificação bastante amorosos e sensíveis – dentro do que a nossa realidade oferece. Então por que a sensação de ter demorado para amá-las enquanto mulheres?
Percebo hoje, depois de muitos anos de análise e reflexão sobre o assunto, que minha suposta demora em reconhecer o que para mim parece óbvio se deveu a um certo desconforto em perceber a extensão particularmente perversa de um tipo de violência do sistema patriarcal colonialista em que vivemos: a misoginia da qual ele depende e que está imbricada em cada uma de suas expressões, na macro e na micropolítica. Reconheci isso quando me apaixonei por Karen Horney e sua teoria.
Havia pelo menos 100 anos,
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