Diário de Portbou
Vista de Portbou, local da morte de Walter Benjamin, em 26 de setembro de 1940 (Foto: Divulgação)
Dezembro de 1988.
Não lembro mais o dia exato, talvez 10 ou 11 de dezembro. Estou chegando à Europa pela primeira vez. De São Paulo para Madri e depois Barcelona. Tenho de estar no dia 2 de janeiro de 1989 no Instituto Goethe de Schwäbisch Hall, uma pequena cidade próxima de Stuttgart, na Alemanha, primeira parada antes de iniciar o período de pesquisa do doutorado em Berlim. Seriam dois meses para aperfeiçoamento na língua alemã. Antes, a passagem obrigatória por Paris.
Também não lembro a hora em que subi no trem noturno para Paris. O horário deve continuar o mesmo. Mas o trem certamente se modernizou. Naquela época, era um trem daqueles que habitavam a imaginação do menino que nunca viajara de trem. Talvez a do trem cortando a neve nas estepes russas em Dr. Jivago. Trem lotado – os aviões eram muito caros e o trem, o transporte preferencial na Europa. Trem noturno, apenas cabines com quatro camas, “beliches”, como dizemos no Brasil. Naquela época, para entrar na França nós, brasileiros, precisávamos de um visto que tirávamos no Brasil e que deveria estar registrado no passaporte. Como até hoje, quando viajamos para países que nos exigem visto. Trem internacional, isso era bem antes da criação da União Europeia.
Cheguei cedo à estação. Costume de criança. Viajar da ilha do Marajó para Belém exigia preparação, e chegar cedo ao porto para pegar o navio, e um bom lugar para sentar era uma espécie de “imperativo categórico”. A voz da razão, no caso a voz da mãe, um alerta permanente. Até hoje sou assim. Ch
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