Êxtase: o vínculo com o transcendental em nome de Deus
(Arte Revista Cult)
Não é por acaso a participação de Deus no avanço do autoritarismo atual. As Igrejas têm imensa colaboração, senão o próprio know-how, da produção da violência autoritária pelo mundo afora e sempre usaram Deus em seus projetos corporativos.
Além de servir como mercadoria, o papel de Deus é garantir poder. O poder tem uma dimensão paranoica e Deus serve para acobertá-la. A paranoia é um sistema interno à mentalidade de seu sujeito, mas também é parte da mentalidade em geral de um sistema como o capitalista.
No contexto dos fascismos contemporâneos, as Igrejas neopentecostais são agências fundamentais do autoritarismo e arregimentam a paranoia. Acabamos de assistir ao golpe de Estado na Bolívia, no qual a burguesia branca local (que não é branca na escala racista do mundo) depôs um indígena eleito democraticamente. A “ultraburguesia” é a classe econômica e ideológica que detém o dinheiro do mundo, enquanto a “médio-burguesia”, composta de colonizadores internos e de seus apoiadores lacaios, aplica os golpes preparados por governos e corporações que servem ao capital, mas ficando com uma parte menor dele.
O poder é um sistema paranoico no qual todos querem ter lugar. O lugar é garantido na adesão ao sistema, ou à paranoia.
Para aderir ao sistema, é preciso um vínculo que se cria pela adesão a uma cena. No golpe na Bolívia, vimos uma cena primorosa: numa alusão semiótica à burguesia estrangeira, uma mulher com feições mestiças, cabelos pintados de loiro, segura uma grossa Bíblia enquanto se autopro
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