Nosso ambiente interior 

Nosso ambiente interior 
(Foto: Reprodução)

 

Por Mayra Chacon

Se fecho os olhos sinto cheiro de fumaça cada vez que imagino a cena de destruição que assistimos, impotentes. Acredito ser uma questão profunda de educação precária. Na verdade, todo esse sentimento que mistura indignação, revolta e pena vem amparado de egoísmo. Somos falantes, mas não agimos. E assistimos nosso mundo derretendo sentados na frente da TV, engolindo indignação por indignação feito pipoca no cinema, mas é só naquele momento, depois voltamos para nossos velhos hábitos e rotinas pautados no desmatamento e na destruição.

Somos uma civilização iludida com a modernidade e os valores capitalistas que sentaram o traseiro polpudo em cima da vida do planeta. Estamos morrendo todos juntos agora e daqui a cem anos. Matamos dia a dia nossas futuras gerações. É só entrar em um supermercado e olhar à volta. Não existe absolutamente nenhum produto que não cause dano ao meio ambiente para que possa estar exposto nas prateleiras, fora todos os outros tipos de exploração que não chegam a serem vistos por nossos olhos.

Enquanto a educação sobre o meio ambiente não chegar verdadeiramente nas escolas, sofreremos todo tipo desgaste e degradação. E os povos das matas dão aula de civilização para o civilizado”. Na verdade o meio ambiente é cada um de nós! O meio ambiente está dentro de nós! Amazônia queima dentro e fora de nós junto com a falta de humanidade.

Quem não consegue olhar para o outro com empatia e respeito não tem dentro de si a compreensão suficiente para levantar uma bandeira humanista de preservação da natureza em prol da vida. Isso arrasta consigo um extenso discurso sobre educação, simplesmente educação! Somos a Amazônia! Ela vive  em cada um de nós!

Queimamos e matamos todos os dias nossas relações de humanidade, reciprocidade e amor. Cada boto, cada índio e cada árvore ao morrerem levam consigo nossas assinaturas de falência total como seres evoluídos. Gastamos rotineiramente discursos que não cumprimos como povo articulado e evoluído porque varremos nossas imperfeições para debaixo do tapete. Aparentamos algo que não é nossa essência, gostamos de falar mas não de cumprir.

Vociferamos nossos conhecimentos, fazemos passeatas e manifestações, mas voltamos para casa com as sacolinhas de mercado e inúmeros frascos e embalagens plásticas. O plástico deve ser banido do planeta!

Nossos combustíveis, água, alimentos, roupas, celulares, moradia etc são fonte de exploração constante e finita da terra do mundo. Esses recursos vão acabar! O problema é que somos imediatistas e empurramos para frente, acreditando na potência de resolução do ser humano. Alguém que não sabemos quem nem quando vai conseguir resolver, e assim seguimos com nossas indignações esperançosas.

Temos consciência, mas não temos atitude e nem coragem. Somos uma geração individualista e isso se reflete claramente à nossa volta. Precisamos de união, amor, respeito, empatia, sororidade, afeto e humanidade para salvar o planeta!

O que queima na Amazônia é o “bom dia” que deixamos de dar para o lixeiro, é o racismo que nos faz indiferentes ao outro pelo tom da pele, é a falta de respeito pela opção sexual de cada um, é o descaso com a violência contra as mulheres, é o abandono de crianças e idosos, é a prática do verbo “ignorar” na sua mais pura e crua conjugação. Isso tudo é que acende o fósforo que destrói nossas matas, índios e animais.

Enquanto não formos verdadeiramente humanos no real sentido de sentimentos que essa palavra carrega, não teremos evolução planetária. Seremos seres precários e necessitados de compreensão do que verdadeiramente importa para que nossas vidas valham a pena. E é tão simples! É só amar! Olhar para o lado e ver o outro como irmão que merece respeito e apoio. E principalmente criarmos nossos filhos fora de nossas bolhas consumistas porque essa experiência é que nos trouxe até aqui, encharcados de competitividade, ganância, egoísmo e egocentrismo.

Para salvar o meio ambiente, precisamos salvar o “meio” humano que está dentro de nós. Não enxergo vida nas florestas enquanto a vida for banalizada nas cidades. E eu só acredito no amor e na educação para levar esse planeta adiante.

 

Mayra Chacon, 50, cozinheira, confeiteira, escritora e poeta por paixão

 

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