Tunga ganha exposição póstuma com obras inéditas
O artista plástico, em frente a uma de suas instalações (Foto: Daniela Paoliello/Divulgação)
Por Eric Campi
Autoproclamado leitor de livros sobre alquimia, Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga, entrou para a galeria dos mais importantes artistas brasileiros. Escultor, desenhista e artista performático, ficou conhecido por utilizar diversas fontes materiais, como borracha, lâmpadas e fios, em justaposições que modificavam os sentidos simbólicos dos objetos.
Em 2015, Tunga estava trabalhando na exposição “Pálpebras” quando problemas de saúde interromperam sua produção. Quase cinco meses depois da morte do artista pernambucano, aos 64 anos, a Galeria Millan recebe a mostra que reúne mais de trinta obras de Tunga, inclusive algumas jamais vistas pelo público.
“O Tunga queria expor esse novo trabalho dele, intitulado ‘Morfológicas’. Depois resolveu que mostraria também uma série produzida em 2.000, ainda inédita, a ‘Phanógraphos’”, conta André Millan, dono da galeria e amigo de Tunga. Para abrigar as duas séries, portanto, a exposição foi separada entre a Galeria Millan e o Anexo, ambos na Vila Madalena, em São Paulo.
A série “Morfológicas” apresenta obras orgânicas que remetem ao corpo humano, brincando com a sensualidade e o erotismo de cada peça, uma das marcas registradas de Tunga. Segundo o crítico de arte Luiz Camillo Osorio, em texto compilado no livro Olhar à margem: caminhos da arte brasileira (SESI-SP), “os trabalhos do artista singularizam-se pela capacidade de misturar intensidade orgânica e rigor conceitual, vida e pensamento, corpo e ideia”. “Morfológicas” se estende entre estudos de forma e obras acabadas.
Já a “Phanógraphos” surgiu quando, absorto em seus pensamentos durante um dia de trabalho, Tunga começou a decorar inadvertidamente uma garrafa de vidro com ímãs, cristais, corrente e fios de cabelo formando um “amálgama terroso que se transformou em talismã”, até que decidiu urinar dentro da garrafa.
O “troféu-talismã” passou a ser fonte de inspiração para Tunga, que via formas através do líquido. A garrafa, então, transformou-se em uma coleção inteira. “As instaurações de Tunga estão sempre provocando uma reflexão sobre o lugar institucional da arte e sua capacidade de significação para e além desse lugar”, escreve Osorio.
A ressignificação, afinal, sempre foi um dos motes da obra de Tunga, o primeiro artista brasileiro a expor no Museu do Louvre, em Paris. A quebra dos paradigmas visuais também o levaram até o Museu Guggenheim, Na Itália, o Reina Sofia, na Espanha, e o Museum of Modern Arts, nos Estados Unidos.
“É muito curioso, ao invés dessas obras nos levarem ao passado, elas nos encontram no presente. Você vê que o trabalho é um só, existe uma coerência entre o trabalho de 30 anos atrás e o de hoje”, afirma André Millan.
O galerista, que diz ter “perdido um irmão” com a morte de Tunga, convidou o colega Fernando Sant’anna para auxiliá-lo com a exposição. “Tudo mudou e ao mesmo tempo nada mudou”, afirma Millan sobre o falecimento do artista. “A preocupação foi resgatar o vocabulário de Tunga e colocá-lo dentro da exposição de forma a ser percebido na atmosfera do espaço”. Os locais de exibições foram pensados a partir de uma desconstrução, segundo o galerista: “Como um oito, o programa de Tunga não se fecha.”
Pálpebras
Quando: até 12/11. ter. a sex. das 10h às 19h; sab. das 11h às 18h
Onde: rua Fradique Coutinho, 1.360
Quanto: Grátis