Privado: A ação da não-ação
por Antonio José Bezerra de Menezes Jr.
O wu wei (“não-agir”) é um dos conceitos centrais do taoísmo desenvolvido nas obras dos filósofos Zhuangzi (Chuang Tse ou Tzu, 369?-286 a.C.) e Laozi (Lao Tse ou Tzu, 604?-? a.C.). A sinóloga francesa Anne Cheng assim distingue o wu wei (“não-agir”) do wei (“agir”) conforme a tradição taoísta: “Na verdade, cada vez que minha ação é voluntária, cada vez que ela procura ‘impor meu eu’ indo à contracorrente do curso natural das coisas, ela é da alçada do Homem ou daquilo que os taoístas chamam de wei, o agir-que-força a natureza. Quando, ao contrário, a ação vai no sentido das coisas, quando ela se deixa levar pela corrente, como o nadador que ‘segue o Tao da água sem procurar impor seu eu’, ela é da alçada do natural (ou seja, do Céu ou do Tao), ou ainda do wu wei, o não-agir, ou melhor, o agir-que-segue a natureza, que não impõe nenhuma coação” (CHENG: 2008, p. 144).
De forma bastante original, o sinólogo brasileiro Mario Sproviero tenta uma interpretação do wu wei com base na voz média, um tempo verbal distinto da voz ativa e da voz passiva e que, segundo Wolfgang von Schöfer, estudioso do pensamento mítico, teria existido em uma época remota quando ainda não havia a separação Homem-Mundo. Assim escreve Sproviero em sua tradução do Dao De Jing (Tao Te Ching) escrito por Laozi: “O wu wei critica o sujeito ativo (‘eu atuo no mundo’); critica ainda mais o sujeito passivo (‘eu sou atuado pelo mundo’). Não tendo forma sintética para exprimir a voz média, pode
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