Comida e identidade – coentro ou salsinha?
Vertumnus, 1590/Castelo Skokloster em Skokloster, Suécia
Analisando um conjunto de mitos norte-americanos, o antropólogo Claude Lévi-Strauss afirma que a arte culinária não está situada totalmente ao lado da cultura mas, antes, funcionaria como um articulador entre ela e a natureza, uma vez que o homem, ao responder às necessidades fisiológicas do corpo, sempre o faz de forma específica. A culinária estabeleceria um elo de ligação entre algo que é universal – a fome –, com algo particular – a escolha dos alimentos, os modos de preparar e de comê-los.
Essas características são compartilhadas por um mesmo conjunto de pessoas dentro de uma sociedade e usadas como elementos de diferenciação entre os próprios homens, que reconhecem, por meio da comida, padrões sociais, econômicos, religiosos e não puramente alimentares. Nesse sentido, é certo dizer que as práticas culinárias de um grupo, dentro de um contexto histórico e social definido, ajudam a refletir sobre a criação de regras de convivência no espaço em que vivem ou imaginam viver e sobre ideias que este grupo tem a respeito de si e dos outros. A esse processo simbólico de auto-designação, feito e refeito a partir de traços culturais pertencentes a um repertório mais ou menos limitado, damos o nome de identidade.
Códigos de pertencimento e identidade
Categorias como doce, ácido, amargo ou salgado são muitas vezes reivindicadas como próprias a cada indivíduo, como se o gosto por determinados alimentos e modos de preparos estivesse situado dentro de uma esfera absolutamente pessoalizada e praticamente imutável. “O que um homem
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