Sutil unidade
Claudio Oliveira
Diferentemente de coletâneas organizadas pelo próprio Agamben (como Mezzi senza fine, 1996, e La potenza del pensiero, 2005, ainda inéditos no Brasil), a presente reunião de ensaios é de responsabilidade da edição brasileira. Originalmente publicados como pequenos livros individuais, os textos aqui reunidos guardam entre si uma unidade sutil que o tradutor e a revisora técnica do volume tentam numa apresentação tornar visível.
A conferência “O que é o dispositivo?”, que foi lida por Agamben em algumas cidades brasileiras em sua única visita ao Brasil até agora, no ano de 2005, parte do problema do dispositivo em Foucault para alcançar aquilo que naquele momento era a última formulação agambeniana acerca do problema da ação política no mundo contemporâneo: a profanação. A conferência faz uma genealogia do termo dispositivo de início na obra de Foucault e, posteriormente, num contexto histórico mais amplo. Ela já antecipa alguns elementos da genealogia teológica da economia que Agamben encontrava-se escrevendo então (Il regno e la gloria, 2007, ainda inédito no Brasil). A questão da economia encontra-se surpreendentemente articulada à questão do dispositivo de início, simplesmente, pelo fato de os padres latinos terem traduzido o termo grego oikonomia pelo latino dispositio. Agamben julga que os dispositivos de Foucault estão, de algum modo, conectados com essa herança teológica. Com base nessa aproximação paradoxal, ele abre caminho para, indo além de Foucault, apresentar sua própria compreensão dos dispositivos, definindo a fase extrema do desenvolvimento capitalista que estamos vivendo “como uma gigantesca acumulação e proliferação de dispositivos”.
Em “O amigo”, texto lido pelo autor na ocasião do recebimento do Prix Européen de l’Essai Charles Veillon 2006, Agamben exibe características típicas de seu estilo: uma questão de início pouco precisa (“O que é o amigo?”) é paulatinamente construída com elementos extraídos da filologia, da linguística, da história da arte, de suas conversas com Jean-Luc Nancy e Jacques Derrida, e, como de hábito, de alguma passagem bastante obscura de Aristóteles sobre a amizade que é traduzida e interpretada por Agamben de modo totalmente original. Ao fim, é defendida uma tese sobre as consequências políticas dessa nova concepção de amizade: a amizade humana é definida, em Aristóteles, “através de um conviver (…) que não é definido pela participação numa substância comum, mas por uma condivisão puramente existencial e, por assim dizer, sem objeto: a amizade, como com-sentimento do puro fato de ser”. Agamben, ao mesmo tempo, nos deixa como questão para refletir como essa sinestesia política originária se tornou “no decurso do tempo o consenso ao qual confiam hoje seus destinos as democracias na última, extrema e extremada fase da sua evolução”.
Por fim, “O que é o contemporâneo?”, que retoma a lição inaugural de um curso dado em Veneza, publicado em 2008, nos traz Agamben de novo às voltas com a questão do tempo, mas agora numa especulação articulada com a noção de arqueologia, que ele discute num livro publicado sobre o método, mais ou menos na mesma época (Signatura rerum, sul método, 2008, ainda inédito no Brasil). Uma anotação de Barthes, as “Considerações intempestivas” de Nietzsche, um poema de Osip Mandelstam, a neurofisiologia da visão, a astrofísica contemporânea, a moda, a roupa, as mannequins – “essas vítimas sacrificiais de um deus sem rosto” –, tudo contribui para esse magnífico ensaio deste que é sem dúvida um dos maiores filósofos da atualidade.
O que é contemporâneo? E outros ensaios
Giorgio Agamben
Trad.: Vinicius Nicastro Honesko
Editora Argos
92 págs.
R$ 19
(1) Comentário
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O Sr. Sari Hanafi apresenta sua vise3o urtalienal. c9 uma narrativa que este1 distante dos fatos histf3ricos sobre a Palestina1. A Palestina e9 uma regie3o geogre1fica que engloba Jorde2nia, Israel, Cisjorde2nia e Gaza.2. Nunca pouve um paeds chamado Palestina, ate9 o fim da dominae7e3o Otomana.3. De 1922 a 1947, a Palestina ocidental ficou administrada pela Inglaterra, de acordo com Mandato concedido pela Liga das Nae7f5es em 1922 e terminou em 15 de maio de 1948, de acordo com a resolue7e3o da ONU de 29 de novembro de 1947. Durante o Mandato, tanto e1rabes e judeus eram palestinos.4. De 1949 a 1967 a Cisjorde2nia, regie3o que atualmente a imprensa chama Palestina esteve sob ocupae7e3o da Jorde2nia.5. Sobre a queste3o dos refugiados da regie3o, ne3o apenas e1rabes se tornaram refugiados de guerra, tambe9m houve um milhe3o de judeus que foram expulsos dos paedses e1rabes e mue7ulmanos. Metade foi absorvida por Israel.6. Deve-se ouvir outras versf5es das narrativas e considerar fatos e evideancias antes de haver formae7e3o de opinie3o.