Privado: Alfabeto
Este pequeno livro traz pela primeira vez a tradução de poemas em prosa de Paul Valéry (1871-1945). Como nos lembra o crítico Michel Jarrety no posfácio, trata-se, inclusive, da única coletânea de poemas em prosa deixada pelo poeta francês, conhecido pelo extremo rigor formal. Na quarta capa, lemos na explicação do próprio Valéry que este Alfabeto é resultado de uma proposta feita a ele, com base em 24 xilogravuras que representavam, cada uma, uma letra do alfabeto (excetuando-se o K e o W). A solução inicial do poeta foi remeter essas 24 letras às 24 horas do dia: “a cada uma das quais se pode bastante facilmente fazer corresponder um estado e uma ocupação ou uma disposição da alma diferente”, explica. O que sobressai, além da sonoridade sinuosa – bem mais acessível aos leitores que acompanharem a versão em francês –, é a busca por alcançar com as palavras os movimentos mais sutis das sensações humanas. Uma poesia de interstícios das emoções, na qual o sujeito que fala é pulverizado em meio a todo um universo de percepções, afetos e seres que o rodeiam. O próprio corpo é uma espécie de desconhecido com o qual o eu do poeta convive e no qual se perde: experiência de estranhamento em que reconhecemos, afinal, um dos cernes da poesia e do pensamento modernos.
Alfabeto
Paul Valéry
Trad.: Tomaz Tadeu
Autêntica
160 págs. – R$ 29
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