1914: o ano que não terminou
Mulher nua arrumando o cabelo diante do espelho (1841), de Christoffer Wilhelm Eckersberg (Reprodução/Hirschsprung Collection)
A publicação de “À guisa de introdução ao narcisismo” foi o disparador de questões decisivas e ainda inacabadas que atordoaram o campo psicanalítico. No ano da sua aparição, 1914, Freud promoveu uma verdadeira reviravolta em seu pensamento: no que concerne à metapsicologia, a formalização do conceito de narcisismo e suas implicações para a teoria da libido; em relação aos impasses e aos dispositivos da prática clínica, as surpresas no manejo do caso que, posteriormente, ficou conhecido como “Homem dos Lobos” e que despertou os analistas para as patologias narcísicas; finalmente, sua inovadora concepção do que é o psicanalisar, a partir da publicação de “Lembrar, repetir e perlaborar”.
Não bastasse essas torções teórico-clínicas, também em 1914 Freud publicou “A história do movimento psicanalítico”, que opera como libelo aglutinador do campo psicanalítico no contexto do abalo provocado pela sua ruptura com Jung e com Adler. Quando nos sentimos ameaçados, é tentador recorrermos ao reforço identitário. No caso, foi preciso grifar quem sabe o que é a psicanálise, bem como quem é ou não psicanalista. No entanto, se a psicanálise é, efetivamente, a “sua” criação, como reafirma Freud, isso não implica que a criatura não possa surpreender seu próprio criador.
Neste dossiê, nos dedicamos a refletir sobre o impacto que a formulação do conceito de narcisismo provocou na obra de Freud, os desdobramentos encontrados em alguns dos seus principais seguidores, e sua fertilidade para a compreensão dos de
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »