O mesmo espaço
(Arte Revista CULT)
Por Sandra Modesto
Estava querendo muito caminhar pela cidade. Ontem, fim de tarde realizei meu desejo. Peguei um material lindo. Eu imprimi e encadernei. São algumas páginas com temas sobre literatura, cinema, feminismo, racismo, lutas sociais, artes visuais… Evidente que, para imprimir, pedi autorização à editora.
Há textos meus em duas edições.
Caminhando pude perceber o quão maravilhoso é o olhar. Não estou falando de poder enxergar. É o sentir mesmo, sabe?
Demorei quarenta minutos e cheguei a uma rua central, com trânsito movimentado, pessoas que não estavam curtindo feriado prolongado, pra lá e pra cá.
Deixei os exemplares na Biblioteca de Rua da avenida Dezessete. Três moradores de bairros afastados aguardavam ônibus, foram presenteados com as revistas. Sorriram, ficaram surpresos, agradeceram…
Sentei para esperar meu ônibus. Dois senhores negros também aguardavam. Eu segurava meu celular quando um deles disse:
– Que danado de celular “bonito” é esse?
– Obrigada.
O elogio foi por causa da capinha do meu celular que tem uma película brilhosa e com uma paisagem. Por acaso, eu usava uma blusa com desenhos parecidos ao da capinha, que eu comprei por trinta e cinco reais. Aliás, a blusa também foi o mesmo preço. Aliás, as capas dos exemplares das revistas possuem desenhos quase idênticos. Ah, eu usava uma saia com tonalidade rosa.
– Quanto está a passagem de ônibus Eu quis saber.
– Não anda de ônibus não? Perguntou o segundo senhor.
– Ando. É que eu nunca sei ao certo. Vai que é outro preço, né?
Ele deu uma risadinha e respondeu educadamente.
Peguei o dinheiro na bolsa porque não gosto de fazer motorista ou cobrador esperar.
Meu ônibus chegou. Entrei feliz e observando ruas, avenidas e imaginando histórias de vida das pessoas, que, naquele momento, dividiam comigo o mesmo espaço.
Sandra Modesto, 58, é professora aposentada em Ituiutaba – MG