Maternidade: um caminho construído e conquistado
(Arte Revista CULT)
Por Gisele Souza Gonçalves
O que dizer exatamente sobre um tema em que há tanto o que falar? Maternidade, um lugar onde, de alguma maneira, todas as mulheres se encontram, algumas de maneira menos árdua, outras nem tanto. E isso depende de variados fatores: econômico, emocional, cultural e, consequentemente, social.
Eu sempre quis ser mãe, sempre quis escrever sobre isso em espaços muito além das redes sociais, que não nos ofertam um ambiente muito saudável no universo das mães. Julgamentos são sempre os mais terríveis no campo virtual. Parece que a ausência do “olhar nos olhos para dizer o que se pretende” tem fortalecido os preconceituosos.
E de quais preconceitos falo? De vários, de tantos que o universo da maternidade nos faz tristemente conhecer como, por exemplo, os que se referem às suas escolhas: você optar por amamentar em livre demanda ou evitar o açúcar até os dois anos; mais tarde quando a criança já caminha e faz suas exigências e vira a tão famosa “birra”, você é punida com os comentários justamente por tentar entender o motivo da “birra” e por não punir sua filha. Ninguém sabe exatamente o que esperar de sua criança, ninguém pode adivinhar como ela vai agir em um ambiente novo, especialmente quando você não a ameaça depois de aprender o quanto determinadas posturas verticais de poder favorecem problemas emocionais na pessoa em formação – que, de fato, somos todos nós, seres humanos.
Tão bom obter resultados positivos de atitudes que você tomou com paciência – ou com uma dose de estresse calado fingindo ser paciente – para não tomar a medida inadequada, e depois perceber que conseguiu se entender com a sua amada criança. Isso entre vocês dois, porque a melhor parte da maternidade é se construir junto com essa identidade que você adquiriu – ser mãe. E para obter essa identidade é preciso uma construção mútua, pois sem a filha (ou o filho) e todo este conjunto de desafios a maternidade não é possível existir.
E quantos desafios temos tido: companheiro, trabalho, estudo, cuidado, casa, relacionamentos sociais e familiares na pós maternidade. Tudo isso e mais o nosso “eu” e a filha. Quantas exigências nesses mundos da família, do trabalho e da academia quando já temos a maior de todas as demandas – cuidar de um bebê. Para as mulheres esse mundo lindo e desafiador muitas vezes traz cansaços e esgotamentos físicos e emocionais, já que para a sociedade patriarcal a missão de educar é basicamente delas. Quando homens assumem a função de compartilhar justamente com suas companheiras o ato de cuidar e educar os filhos, a família sofre com deboches e preconceitos velados (ou não) por grupos variados – amigos, familiares, colegas e até mesmo estranhos.
Psicoterapeutas nos ensinam que o que importa é o que você faz com o que dizem sobre você e, na verdade, eu concordo e tento assimilar esse preceito, até que alguém usa seus sensos comuns para julgar a criança cuja família sequer pediu opinião: “essa brincadeira não é de menina”; “essa cor você não deve usar”; “você tem que fazer isso assim porque desse jeito é feio e ninguém vai gostar de você”; “faça isso que te dou aquilo”. Sei que muitas vezes não fazem por mal, mas que bem esses comentários fazem? É preciso ter bom senso e acolher a família, analisar se o comentário é necessário para o momento, pois muitas vezes ele traz um desconforto aos sujeitos envolvidos no contexto.
A maternidade me ensinou algo: há pouco acolhimento com as famílias no puerpério. Há menos ainda quando fazemos opções menos convencionais com nossos bebês; e, por incrível que pareça, quando as suas atitudes não convencionais são bem praticadas trazendo bons resultados na saúde e desenvolvimento do bebê, há pessoas que procuram problemas nesse conjunto, desmotivando ou abalando a harmonia do ambiente familiar que acabou de receber um novo sujeito cheio de boas energias. Talvez porque as crendices e mitos caiam por terra, mostrando que a informação e o empoderamento feminino – especialmente em uma sociedade machista – trazem muitos benefícios e quebram paradigmas.
E para finalizar o breve relato desse universo incrível que é ser mãe, vou citar aqui o que há de melhor nesse lugar chamado “maternar” para mim:
– Sentir o bebê se mexer e imaginar como ele se constitui dentro de você;
– Sentir um amor tão grande por alguém de maneira incondicional;
– Perceber que você é muito mais forte do que imaginava;
– Parir;
– Parir e compartilhar isso;
– Acolher a todas as mães independentemente de como elas tiveram seus filhos e ver nos olhos seus olhos a alegria de sentirem-se abraçadas como você foi por algumas pessoas;
– Aprender que a todo tempo é tempo de aprender;
– Amamentar;
– Olhar nos olhos do seu bebê e ele olhar nos seus;
– Ver o bebê sorrir pra você, mesmo que você saiba ser um reflexo, porque é a maior luz do mundo;
– Chorar de felicidade ao ver seu bebê dormir;
– Perceber que é um mundo novo e você está aproveitando isso;
– Compartilhar, aprender e ensinar entre mães;
– Chegar do trabalho e receber o abraço e o carinho de sua filha;
– Ouvir “mamãe” pela primeira vez;
– Ver sua filha saboreando o primeiro alimento sólido;
– Sentir o cheiro de sua filha;
– Ouvir o primeiro questionamento de sua filha;
– Entender a sua criança;
– Saber que ela confia em você;
– Brincar com sua filha e rir muito com ela;
– Esperar pelo momento de rever sua filha;
– Ver sua filha e o pai dela sendo felizes;
– Sobreviver aos conflitos e desafios com a paz no coração por fazer o que acredita ser o necessário e com todo o amor;
– Saber que não terei estabilidade porque cada dia surge algo novo que me faz amar cada vez mais a filha que tenho;
– Descobrir que a maternidade me leva a buscar ser eu mesma, mas da melhor maneira possível, porque agora somos nós duas aprendendo.
Ser mãe não é fácil, mas foi o melhor que eu podia ter escolhido para mim.
Gisele Souza Gonçalves, 36, professora e doutoranda em Foz do Iguaçu