Maternidade como experiência
(Arte Revista CULT)
Por Alissara Zanotelli
Ao chegar no caixa da padaria um sorteio: “Preencha para o dia das mães”. Seriam as mães para preencher? Este pequeno recadinho era para mães com filho no colo ou para aquelas que carregam no seu ventre? Ela sorridente disse que eu poderia destinar a alguém se eu ganhasse o sorteio. Então uma gestante já comemora o dia das mães? Uma mãe que aguarda na fila de adoção pode preencher? Não sei.
Aos dicionários destinamos o significado de maternidade como laço que une, parentesco entre mãe e filho. Nas frases corriqueiras que buscamos para os murais escolares diversas propostas surgem com o intuito de aproximar, por parentesco ou laço, afeição.
Mas, por fim, o que se pode dizer da maternidade?
Esta pergunta está nos meus pensamentos, uma gestante se fazendo, em devir. É preciso definição para as questões de maternidade? Um filho está aí, no pensar, no ventre e nas coisas que se decide fazer com o corpo, que transita de lá para cá. Um lugar de escuta no cotidiano. Escuta atenta e desordeira, pois se embaralha com as sensações, aflições que vão surgindo ao longo desse fazer-se maternidade, deste maternar antes mesmo de segurar nos braços um filho que está por adentrar ao mundo.
Tampouco se faz necessário saber se a gestante já é mãe, pois, afinal, quando se é mãe? Acredito eu, um ser que tenta jogar-se ao que pode vir a ser, que a experiência da maternidade é singular não porque é de cada um, mas porque provoca para a vida que vai se fazendo a cada dia. Nos aproxima de um espaço de viver que não sabíamos que antes se configurava a cada dia e se transformava. Não há previsões, porque se elas existem só dão espaço a ansiedades que não podemos por fim controlar. Então, maternidade se encontra neste tempo e espaço de vir a ser, de jogar-se ao acaso, com prudência e coragem para aceitar o que pode um ser que se forma a cada dia como elemento que nos transforma e nos transformará de modo jamais imaginável. Uma transformação que não sabemos e por mais que tentemos acreditar ser algo bom, é impossível dimensionar.
Para nós, mães que nos consideramos numa maternidade sem tempo definido de ser iniciada, mas que se faz, desejo coragem para viver e saborear dos passos que a vida vai fazer, para que nela mesma e no nosso modo de apreciá-la, experienciemos. Pois se a vida é mais experienciar do que fazer, então experiência para a vida, e não acúmulo, soma de atos. Encontros, sensações, tristezas e choros, lágrimas e alegrias, mais encontros e então, sim, maternidade como experiência que não é matéria, mas que está sempre num plano de fazer-se.
Alissara Zanotelli, 27, é professora em Lajeado – RS