Em meio às coisas todas

Em meio às coisas todas

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de dezembro de 2021 é “angústia”


Ando muito ocupada, por isso não consegui mais escrever, mas como é urgente tudo que tenho em mim, precisei parar para isso, em meio às coisas todas. Venho valorizando mais os sabores que os saberes, ao mesmo tempo em que não consigo parar um só segundo de raciocinar sobre tudo que sinto, meus sentidos se mostram aguçados às experiências, quase como se eu pudesse, de tanto querer, vivê-las todas mais de uma vez. Não sei de onde me surgiu toda essa sede de vida, será que estava morta por um tempo e não me dei conta? Me sinto repetitiva e antagônica. Mas não sei se estou soando cansativa simplesmente por estar cansada. De que estou cansada ao certo, não sei dizer. Eu precisaria que alguma mudança extraordinária acontecesse na conjuntura mundial, minha vida poderia continuar a mesma. Me sinto absolutamente patética e impotente todas as vezes que vou ao mercado, tanto que me parece mesmo absurdo que algum dia eu me diverti fazendo feira e até mesmo compartilhava curiosidades bobas sobre alimentos, rindo à toa de todos os conhecimentos inúteis que eu acumulo enquanto não sei tanto que me parece ser importante. Às vezes não queria saber de nada, nem da fome, nem das dores, nem das mortes, assim minha ignorância inerte seria completamente justificável em sua paralisia fétida. Tenho a impressão de que agora só se pode ser feliz em silêncio, para não acordar as dores do mundo. Como não quero ser a única imprudente, venho me esforçando para fazer também os outros alegres, assim não me julgarão pela minha própria alegria, que carrego como um segredo. Alegria em ESTAR VIVA, veja como soa ultrajante, diante de tantas tragédias nas quais se converteu o que chamamos de vida. Te pareço irresponsável ou revolucionária? Eu mesma ainda não decidi.

 

Thaciana Pereira Rodrigues, 25, é de Caruaru, PE. Médica por
ofício, escreve por não saber outra forma de existir. Escreve desde
os 11 anos, quando foi apresentada à poesia brasileira. Aos 17 ,
publicou com 3 amigas um livro de poesias.

 

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