Cadeira de balanço
Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de julho de 2021 é “memória”
Um sentimento inunda meu ser como um rio a atravessar a minha alma de criança, de filha…
Esse rio é memória, lembrança, saudade, tudo mergulhado em mim a nadar, a misturar-se como peixe em um rio…
Esse sentimento me faz voar e não nadar, voar como passarinhos no céu azul escaldante do sertão nordestino e este voo me levaram até o sítio dos meus pais, para varanda. Esse sítio, essa casa é mais que morada, é abrigo, ninho…
E aqui estou no sítio dos meus pais ,na casa, no ninho e ouço o barulho das crianças brincando no terreiro, das galinhas, dos galos a cantarem a qualquer hora (os galos cantam para vida) o cantar dos passarinhos (como amo passarinhos) quando encontrava algum deles caído do ninho e sem vida, eu com as minhas primas, amigas, irmãs fazíamos o enterro, colocávamos flores e enterrava em um lugar que nem carro, gente ou bicho o machucasse!
Em fração de segundos o rio muda de direção ou os peixes dentro da minha alma? Não sei dizer… agora sou adulta sentada em uma cadeira de balanço, ainda atenta ao barulhos das crianças, a poeira que sempre se fez presente nesse nosso sertão, essa eterna “Mata branca”, sinto o cheiro de café, do almoço sendo preparado…
E meus olhos, minha alma “parou” em uma única imagem: papai sentado em sua cadeira de balanço na varanda e lentamente caminhei com passos leves, porém precisos e sentei na cadeira de balanço ao lado de papai. Ficamos ali sentados sem nada falar e muito a dizer!
Minha alma fotografou, eternizou esse momento onde até o silêncio era colo.
Nem uma poeira do meu sertão, da “mata branca” impediu essa inundação de sentimentos, não secou lágrimas e nem encobriu as minhas mais belas lembranças guardadas, eternizadas na minha Alma.
Até o silêncio era colo…
Dayse Ricardo é escritora