AI-5, Cassandra Rios e Ensino Vocacional

AI-5, Cassandra Rios e Ensino Vocacional
A escritora Cassandra Rios, perseguida e censurada pela ditadura militar (Foto: Reprodução)

 

Por Felipe Roberto Martins

Você já ouviu falar ou leu algo sobre o Vocacional e Cassandra Rios?

Aliás, o que o Ensino Vocacional e Cassandra tem a ver um com o outro?

Ambos oprimidos – e diria até suprimidos – pela ditadura militar brasileira, a partir de 1964. Procurarei aqui usar apenas o termo “militar”, mas há quem diga “militar-civil-empresarial”.

Os Vocacionais foram apagados da história da educação pública brasileira.

Cassandra Rios foi apagada da história da literatura brasileira.

Quando escrevo “apagados” é no sentido de perguntar sobre o que foi o Vocacional e quem foi Cassandra. Quase ninguém no Brasil saberá…

Nossa falta de memória se tornou nossa maior inimiga? Você acha pouco?

Cassandra (1932-2002) foi uma escritora brasileira, lésbica, uma das mais lidas/ vendidas. Cassandra é esquecida por ser mulher? Por ser lésbica? Por ter vendido seus livros num país nada leitor até hoje? Cassandra é o pseudônimo de Odete, nascida em Perdizes, capital de SP. Foi perseguida na Era Vargas também.

O Ensino Vocacional foi a experiência – mais inovadora – para inúmeros especialistas da área até hoje. Curiosamente, descobri o Vocacional através de um texto do Professor José Pacheco da “Escola da Ponte”.

É fato que o Ato Institucional 5:

– exterminou os Ginásios Vocacionais que eram encabeçados pela Profª Maria Nilde Mascellani

– transformou Cassandra numa rscritora “maldita”

O Vocacional trouxe artes industriais, assembleias, “cotas”, educação doméstica, formação continuada, horário de trabalho pedagógico, práticas comerciais, música, etc, quando praticamente ninguém falava destas, o conceito de Educação “não bancária” integral cidadã, científica e humana.

Rios emergiu para a literatura brasileira, o protagonismo da mulher lésbica em narrativas, além de ser a primeira escritora a vender mais de um milhão de livros, algo impensável na época. Popularizou a leitura. Não é pouco nem para os tempos atuais!

A ditadura “apagou” o Vocacional e Rios.

Faz poucos dias, um político filho de alguém também político defendeu um novo AI-5. Inaceitável, desprezível e nojento.

Hoje, falamos dos apagamentos históricos conectados com arte, ciência, cultura, educação e outras tantas áreas.

Não lembro como conheci Cassandra, mas me apaixonei profundamente e fiquei triste por nunca ter ouvido falar dela, ter lido…

Para reascender o Vocacional e a vida-obra de Cassandra sugiro os documentários: Vocacional – uma aventura humana,  de Toni Venturi (2011), ex-aluno do Ginásio Vocacional, e Cassandra Rios – a Safo de Perdizes, de Hanna Korich (2013).

Lastimável é uma parcela grande da população não conhecer o Vocacional, não conhecer Cassandra, sendo significativa a falta de vontade da mesma em conhecer. Horrível ainda não conhecer quais foram os impactos do AI-5 e grotesco quem pede ou apoia um “novo” AI-5.

Deixo meu grito, nas poderosas palavras de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016): “Para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça”.

Felipe Roberto Martins, 35, é LGBT, professor de língua portuguesa, literatura e comunicação profissional em Suzano, SP

 

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