Crônica da Conexão

Crônica da Conexão
Em setembro, convidamos nossos leitores a refletir sobre o que nos conecta (Arte: Cynthia Gyuru/Revista Cult)

 

Lugar de fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de setembro de 2020 é “conexão”.


Um doido dia resolveu mudar e o dia doido era eu. Tomei uma decisão:

Eu não quero me conectar. Hoje eu quero um afastamento da tela do celular, da televisão, das redes sociais. Há de haver algum lugar no espaço ao meu alcance onde a conexão seja natural e não dependa de senhas.

Assim como o sol quando eu olho ao sentir o brilho e percebo o relento. Preciso de uma conexão no meu espaço físico, na quantidade dos livros guardados chorando por mim. Conectar com histórias contadas em verso e prosa que eu abandonei há sete meses, e hoje é o dia do encontro. Ou reencontro, ou muito encanto. A gente precisou muito da conexão no caos diário, mas a gente se esgota. Pira, estranha, chora, e de repente a conexão se fez diferente.

Dei um basta. Respirei. Reaprendi a dialogar com as pessoas da minha vida real: Filho, marido, cachorro, barulhos brandos, vozes, era nossa vez de escutar nosso cotidiano. E fazer planos, e cantar e sonhar. Nos reconectar e nos sentir vivos.

Mas voltei para minha conexão virtual de todos os dias. Minha irmã usa apenas mensagem de áudio pra se comunicar. Por causa da minha irmã, minha filha, minha tia, eu me reconecto. Por carinho à causa. Um dia desses em que eu resolvi não olhar notificações, recebi um áudio:

– Você não usa o telefone?

Era minha irmã, sentindo minha falta.

– Você quer falar comigo pelo telefone? Perguntei preocupada.

–  Quero falar com você por aqui mesmo. Pra gente conversar muito.

“Comecei a conversar com ela quatro, cinco vezes pelo WhatsApp navegável”. Do jeitinho que ela gosta. É amor. E de amor estamos todos precisando. Em doses cavalares.

Que restabeleça em mim a importância da conexão. Sem nunca perder a vontade de se desconectar por alguns momentos.

Sandra Modesto, 59, é professora aposentada. Mora em Ituiutaba, MG.

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