Vírus, vermes e a estranha sintomatologia dos dias atuais

Vírus, vermes e a estranha sintomatologia dos dias atuais
(Colagem: Laura Teixeira)
  O título atribuído a este ensaio, apesar de sua aparente estranheza, remete ao momento político atual e busca refletir sobre o sofrimento decorrente da pandemia de Covid-19. Como o leitor já deve suspeitar, não se trata de uma apresentação teórica sobre virologia, parasitologia ou afins. Refere-se a uma discussão sobre clínica e sofrimento subjetivo em sua relação com o coronavírus Sars-CoV-2, o que não pode ser dissociado de uma política em que o verme, que não nomearemos, produz seus estragos. Pois, claro, não se faz uma retrospectiva de 2020 sem considerar tais incidências sobre cada sujeito, sobre o laço social e sobre a coletividade. Comecemos pelos sonhos. Quantos sonhos extravagantes e reveladores têm sido narrados por diferentes pessoas desde que o vírus começou a circular pelo planeta? Quantos pesadelos, reais e imaginados, foram referidos desde que um governo autoritário ocupou o poder no Brasil? Quantos de nós foram às ruas? Quantos permaneceram em casa, ao abrigo das intempéries sociais e sanitárias? A clássica frase freudiana – o sonho é a realização disfarçada de um desejo inconsciente – atualiza-se depois de 1920 com a noção de pulsão de morte. E agora, em 2020, uma nova provocação pode ser feita. Os sonhos podem ser lidos como modos de elaboração do que se vive no cotidiano, em que o inconsciente-leitor interpreta a seu modo o que se passa e, nessa interpretação, implica o sujeito: cada um dos personagens do sonho, a cena, o diálogo, mas também aquele que sonha. Nesse sentido, os sonhos, tomados

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