Uma fortuna crítica infinita

Uma fortuna crítica infinita

Obras de Davi Arrigucci Jr., Vagner Camilo e Marlene de Castro Correia e coletânea de ensaios renovam a recepção crítica de uma obra caracterizada pela capacidade inesgotável de desestabilização do conhecimento e de recifração dos impasses históricos 

A julgar pela quantidade de estudos publicados às vésperas do centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, seríamos levados a crer que seu verbo “antipático e impuro” fracassou quanto ao desejo de fazer sofrer o leitor que aí buscasse algum prazer. Ou será justamente pela opacidade planejada, por sua afeição ao difícil, que ele segue excitando os críticos, reféns talvez do mesmo “hábito de sofrer” que tanto divertia o ilustre itabirano? Masoquista ou não, a verdade é que o empenho crítico renovado sobre o legado drummondiano vem apenas confirmar o que de há muito se sabe: sua capacidade inesgotável de desestabilização do conhecimento e recifração dos impasses históricos.

Se toda obra de arte é um “campo de pensamento” no qual os leitores não atuam na qualidade de herdeiros silenciosos mas na de partícipes, uma poesia como a de Drummond, construída desde o início sob o peso de um enorme “cansaço intelectual” (como bem observou Mário de Andrade), “trabalha” e cria sua própria memória espicaçando mesmo os intérpretes mais preparados. Sendo um dos escritores do século XX mais bem “afortunados” criticamente (e basta lembrar nomes como os de Antonio Candido, Sérgio Buarque de Holanda, José Guilherme Merquior, Alfredo Bosi, Luiz Costa Lima, entre outros tantos que se dispuseram a entendê-lo), Drummond vem de ganhar alguns estudos de fôlego, que abrem novos canais de exploração do seu minério verbal, também eles, à sua maneira, fruto de “um secreto investimento em formas improváveis”.

O primeiro desses trabalhos é o livro de Vagner Camilo, professor da USP, intitulado Drummond: da Rosa do Povo à Rosa das Trevas. Tal livro, resultante de uma tese de doutorado, concentra-se num momento decisivo do percurso do autor: a passagem do lirismo participante de Rosa do povo, de 1945, para o hermetismo reclassicizante de Claro enigma, de 1951. Incompreendido à época, o livro de 1951 recebeu críticas severas, de um lado, por parte daqueles que, desacorçoados pelo título paradoxal e pela epígrafe provocativa (“Les événements m’ennuient”) de Paul Valéry, viram nele sinais inequívocos de deserção do autor em relação ao compromisso social assumido anteriormente. No lugar da “praça de convites”, a turris eburnea para mirar, com aparente fleuma horaciana, o curso dos acontecimentos segundo uma teleologia da decadência.

De outro lado, a desconsideração das circunstâncias históricas em que se deu tal mudança de rumo – o achatamento da arte “militante” sob os tacões do sectarismo ideológico próprio à política cultural jdanovista, mais a especialização (“autonomização”) do ofício literário nas décadas de 40 e 50 – levou, com o correr dos anos, a explicações esquemáticas no âmbito da crítica, geralmente apoiadas em dicotomias (participação X formalismo) pouco atentas à maneira pela qual o desvio representado por Claro enigma constituía uma espécie de resposta ao contexto em que o livro foi plasmado.

Nesse sentido, o trabalho de Vagner Camilo coloca-se em continuidade com o estudo pioneiro de Iumna Maria Simon (Drummond: Uma poética do risco, Ática), no qual também se persegue dialeticamente o complexo diálogo mantido entre formalização literária e experiência histórica em Rosa do povo. Por conta disso, Camilo se empenhará na reconstituição do pano de fundo contra o qual o livro surgiu, valendo-se, por exemplo, de matérias veiculadas pela imprensa comunista brasileira daquele período, bem como de informações fornecidas pelo próprio Drummond nos textos em prosa (ver, por exemplo, o texto “Reflexões sobre o fanatismo”, em Passeios na ilha), contemporâneos dos poemas de Claro enigma.

Graças a esse trabalho de recontextualização se pode perceber também o quanto a “torre-de-marfim” (que abriga o poeta quando o engajamento impede o dissenso e a reflexão independente) não se confunde com “não-se-importismo”, com “arte-purismo” (da mesma forma que o domínio técnico decorre da potência moral do artista), para lembrar novamente as idéias de Mário de Andrade. A ilha drummondiana não cederá, portanto, às tentações do idílio fechado, auto-suficiente, sem vistas para o mundo. A fuga por ela propiciada será, pois, uma fuga relativa, a fim de garantir um isolamento que, como escreve Drummond, “não seja inumano”. Donde também a necessidade de atentar para o uso drummondiano de temas e formas clássicas: uso nada arbitrário, muitas vezes repassado de ironia e distanciamento crítico, o que deveria servir de advertência contra o hábito, cultivado por muitos críticos, de aproximar Claro enigma do esteticismo abstrato, da sublimação universalizante à maneira da geração de 45.

Ao longo de minuciosas análises, Camilo procura rastrear sinais da aparente apostasia dos poemas de Claro enigma no livro imediatamente anterior (Novos poemas, de 1948) e mesmo em Rosa do povo (como já se podia depreender das análises de Simon, bastante atentas ao embate entre participação e dúvida expressional). Além disso, apoiado em estudos sobre o lugar ambíguo dos intelectuais no que tange a prerrogativas de classe (como Intelectuais e classes dirigentes no Brasil (1920-1945), de Sérgio Miceli, e Ressentimento da dialética, de Paulo Arantes), Camilo remontará essa atitude de isolamento do autor a um sentimento de culpa irremissível. Culpa que resulta de uma consciência insubornável da arte como privilégio de classe (Adorno), da distância assumida pelo intelectual poeta, quer em relação aos desígnios do clã patriarcal (a perfídia que sua escolha representa tendo em vista suas raízes oligárquicas e rurais) quer em relação às classes desfavorecidas, com as quais se identifica de modo incompleto e defeituoso.

Impossível reproduzir aqui, mais concretamente, o itinerário das análises empreendidas com um sólido cabedal de referências. No entanto o mérito de uma tal abordagem vislumbra-se facilmente, sobretudo por seu caráter de exceção em meio à predominância de estudos temáticos e estilísticos voltados, em sua maioria, para a face transcendental do enigma drummondiano. Da mesma forma, o risco inerente a esse tipo de enfoque é bastante previsível e prende-se à consideração insuficiente das mediações formais e subjetivas em jogo, à explicação reducionista do texto como reflexo mecânico das circunstâncias histórico-sociais. Risco a que foi sensível o próprio autor ao reconhecer, na introdução, certo exagero na notação histórica. Não obstante, se em algumas análises o intérprete infere muito rapidamente o significado a partir das coordenadas históricas, na última seção do livro, a perspectiva teórica se alarga (e, de alguma forma, se compensa e corrige), incorporando outros elementos (como a consideração, já referida, da culpa drummondiana), ligados à manifestação de uma certa “cosmovisão trágica” pelo viés da lírica moderna.

E aqui cumpre mencionar outro livro, publicado neste ano de comemorações, para aumento da lavoura do “fazendeiro do ar”. Drummond: A magia lúcida enfeixa cinco textos de Marlene de Castro Correia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A coletânea reúne artigos de formato e alcance variados: uma resenha sobre Farewell, publicada no Jornal do Brasil; uma apresentação de Drummond para o público vestibulando; um artigo para uma revista francesa e versões da dissertação de mestrado e da tese de livre-docência defendidas pela autora. Na reunião, um tanto heterogênea, sobressaem os trabalhos apresentados pela obtenção de títulos acadêmicos, em especial o capítulo chamado “A inteligência trágica do universo”. Ali, ela se debruça longamente sobre o poema “Os bens e o sangue”, de Claro enigma, para dele derivar toda uma reflexão sobre a cosmovisão trágica, identificando, ao longo da análise, os elementos correspondentes aos conceitos de hamartia, hybris, peripeteia e anagnórisis, decalcados do esquema aristotélico, bem como aos arquétipos bíblicos ligados ao motivo da queda/expulsão do Paraíso (Adão), da redenção sacrificial (Cristo), da negação amorosa (Pedro) e da inocência punida sob protesto (Jó).

Igualmente importante, ainda no livro de Marlene, é o capítulo que dá título ao livro, “A magia lúcida”, no qual a autora procura filiar a metapoesia de Drummond ao conceito de ironia romântica, tal como definido pelos filósofos românticos alemães (sobretudo como se encontra formulado no pensamento de Friedrich Schlegel). O caráter antiilusionista; a atenção à materialidade da linguagem; os processos de cisão do eu lírico (que está na base da estrutura dramática comum a tantos poemas); a sensação de uma “posse impura” (“O lutador”) da poesia, animada pela consciência aguda (muitas vezes traumática) dos limites criativos; enfim, é ampla a gama de questões levantadas pela autora, e de exemplos colhidos em vários poemas, para estribar seu argumento. É bem verdade que, em várias passagens, como na análise de “Isso é aquilo”, poema incluído em Lição de coisas (1962), o argumento se destempera rumo à abstração, com demasiada ênfase no caráter autotélico da linguagem: “Liberados de quaisquer leis que não as imanentemente determinadas no seu próprio discurso, os poemas de Drummond proclamam tacitamente que nenhum outro metro serve para medi-los senão o pautado nas relações internas do material lingüístico, em seus múltiplos níveis”, escreve Marlene de Castro Correia.

Curiosamente, seguindo também no encalço das origens românticas que presidem o enlace entre sentimento e reflexão em Drummond, encontra-se o trabalho de Davi Arrigucci Jr., crítico bastante conhecido pelas análises inspiradas sobre a obra de Manuel Bandeira e Murilo Mendes, para citar dois companheiros de ofício do poeta em questão.

Em Coração partido. Uma análise da poesia reflexiva de Drummond, Arrigucci vai auscultar, entre outras coisas, o descompasso de um coração divido entre o desejo de solidariedade e a consciência da precariedade da poesia; um coração cuja vastidão não implica nenhum poder.

Arrigucci empreende análises bastante cerradas, manejando uma série de referências com a erudição e naturalidade que lhe são próprias e chamando a atenção para a “articulação” (termo-chave que o autor faz questão de enfatizar) entre os diversos níveis (fônico, rítmico, semântico…) do poema. Do ponto de vista metodológico, o autor ora se detém na discussão sobre a mescla de gêneros (dramático, lírico, narrativo), ora se aplica na elucidação etimológica de um vocábulo, ora identifica esquemas arquetípicos (Northrop Frye) e alusões míticas, ou remonta à imaginação das forças elementares, aos devaneios materiais (Bachelard) como pólos de imantação dos versos. Conquanto sejam variados os instrumentos de que o crítico se serve em sua tarefa interpretativa, freqüentemente o que se vê no centro do debate é a tentativa de enraizar o gesto criativo em solo histórico, sem ignorar o fato de que “a consciência verídica da história pode brotar de repente do interior do mito (enquanto narrativa arquetípica ou exemplar) e com ele se relacionar poeticamente, buscando, através da dificuldade, a solução adequada para a expressão de uma real experiência histórica”.

Nessa perspectiva, a maneira pela qual o crítico encaminha a sua análise do poema “Áporo” reveste-se de valor propedêutico. Arrigucci parte da conhecida análise de Décio Pignatari (“Áporo (Um inseto semiótico)”, em Contracomunicação, editora Perspectiva), explora os motivos do labirinto e da metamorfose (imagens complementares relacionadas ao mito do eterno retorno), remete o ritmo da reflexão construída pelo poema aos ritmos do trabalho – a um só tempo minúsculo e “a-histórico”, já que protagonizado por um inseto fiel aos desígnios da natureza, histórico e monumental, pois exercido contra a grandeza de um “país bloqueado” (desproporção de que o poeta retira grande lucro expressivo) –, revela certa implicação biográfica no “enlace de noite, raiz e minério”, tomando ainda a figura do inseto como um espelho degradado do próprio trabalho poético, paralisado em meio à realidade opressiva (o que também se liga ao tratamento irônico e anticonvencional do soneto).

Mesmo num resumo grosseiro como este, é possível ter uma idéia de como a consciência que o poeta tem da história factual, com toda sua carga de conflitos, se liga inextricavelmente “à dificuldade de dar forma, fazendo parte do próprio processo interno que busca a expressão”.

Correndo o risco de parecer repetitivo, vale insistir na advertência de Arrigucci quanto ao fato de que é apenas como “historiografia inconsciente” (Adorno), na imanência da obra, “entranhada profundamente na subjetividade e na própria forma poética que lhe deu expressão”, que a experiência histórica se alça à condição de problema estético (o que nem sempre é levado na devida conta pelos críticos de orientação mais materialista, os quais, por seu turno, talvez considerem um tanto retórica a presença da história nas análises de Arrigucci, na prática mais preocupada com o lugar do mito, do topos, do arquétipo).

Aqui e ali, se poderia fazer um ou outro reparo a determinadas passagens desse Coração partido. Por exemplo, na análise do poema “Sentimental” (de Alguma poesia), estranhar a falta de menção ao poema em prosa de Baudelaire “La soupe et les nuages”, ao qual Drummond certamente pretendeu aludir, e que talvez levasse a considerações ligeiramente diferentes acerca dos dispositivos irônicos que ali operam. São contudo observações pontuais: elas não diminuem o valor dessas análises que, desde já, ocuparão um lugar de relevo dentro da fortuna crítica do mineiro gauche.

Outro lançamento digno de nota no campo dos estudos drummondianos é a coletânea Drummond revisitado, organizada pelo editor e poeta Reynaldo Damazio. À diferença dos livros examinados anteriormente, este reúne ensaios de autores jovens, a maioria composta por poetas que desenvolvem pesquisas em nível de pós-graduação na área de letras: Tarso de Melo, Sérgio Alcides, Eduardo Sterzi, Jerônimo Teixeira, Ivone Daré Rabello e Chantal Castelli.

Nessa “revisitação”, variam o objeto escolhido e o tipo de abordagem adotada. Temos estudos voltados para questões ligadas à recepção do poeta e a um pretenso “padrão” de avaliação poética por ele criado (padrão cujo impacto se estenderia à produção lírica contemporânea), estudos focais (como a análise de dois poemas do Boitempo sobre a memória de experiências ligadas à iniciação escolar), ou dedicados à discussão mais extensiva de um tema (como o conceito de melancolia ou a idéia de “resíduo”).

Destaca-se do conjunto o ensaio de Eduardo Sterzi (“Drummond e a poética da interrupção”) por sua capacidade de articular, com grande independência e clareza, idéias dispersas ao longo da fortuna crítica (incluindo os estudos mais recentes), muitas vezes contrariando ou retificando argumentos sustentados por críticos de renome.

Ele parte da idéia de interrupção (de um corpo que caminha, do olhar que contempla, da memória contra o remorso…), identificada por muitos leitores em poemas como “No meio do caminho”, “Áporo”, “A máquina do mundo”…, só para ficar nos exemplos mais óbvios, o que se vincula a um processo de desilusão com ressonâncias trágicas. Até aí, não há grandes novidades. Sterzi, porém, vai precisar o sentido desse “compromisso ético (e trágico) com o obstáculo” ao relacioná-lo, entre outras coisas, à noção de acontecimento. Palavra-chave em Drummond, o acontecimento designaria, segundo o autor, uma “forma imperfeita de evento”, ou por outra, uma forma que não comporta a idéia de resolução e desenlace. Como suspensão ou entrave à atividade, o acontecimento se equipararia à “pedra-no-meio-do-caminho”, sendo, a um só tempo, gatilho e embaraço para o ato criador (que, por conseguinte, ficaria condenado a uma espécie de repetição infinita e de natureza não propriamente reflexiva). Escreve Sterzi: “Essa infinitude, acreditamos, não é da ordem da reflexão, tal como se encontra formulada nos fragmentos de Friedrich Schlegel e Novalis estudados por Walter Benjamin, mas sim a da impossibilidade da reflexão, que constitui a poesia.”

Com grande habilidade, o autor vai demonstrando, de poema em poema, como essa “hermenêutica frustrada” deriva da firme determinação de não escamotear o que há de inapreensível na realidade histórica. É isso que o levará, por exemplo, na discussão de “A máquina do mundo”, a discordar da interpretação dada por Alfredo Bosi a este poema em ensaio do livro Céu, inferno. Discordar da identificação do elemento incognoscível ao nôumeno kantiano, como pretende Bosi, pois, segundo Sterzi, o incognoscível aqui “é ainda a realidade histórica […] e seu lugar não se confunde com o da máquina, situado que está além dela e de suas cavilações”. Considerando falso (etéreo, imaterial, totalizante) o conhecimento ofertado pela máquina do mundo (e aproximando-o da noção de ideologia), Sterzi duvidará também do diagnóstico de “acídia” igualmente proposto por Bosi para explicar a “recusa” do caminhante retratado no poema. Lê-se: “… a recusa é expressão do desejo perseverante da verdade (e do bem) – não da ‘verdade’ propagandeada pela máquina, mas a verdade da realidade histórica, perdição do poeta. Não é a esta que ele renuncia, embora de qualquer modo não a alcance”.

Pela mesma razão, na releitura de “Áporo”, poema em que o próprio caminho se converte em obstáculo, Sterzi, contrariando Pignatari e Arrigucci, impugnará as leituras apoiadas na idéia de metamorfose do inseto em flor que, segundo ele, não encontram evidências objetivas no material do poema (além de representarem um arrefecimento na negatividade cognitiva latente em tantos outros versos do autor). Supor, ao contrário, a descontinuidade ontológica entre as duas imagens lhe parece mais condizente com a idéia de um empenho cognitivo em relação à realidade histórica que não pode ser inteiramente satisfeito – a não ser que o “desenlace” se dê num plano diverso, ainda que contíguo, daquele em que a luta começou. Assim o que se desata em verde, antieuclidianamente, talvez não coincida perfeitamente com o que se exauriu “em país bloqueado”…

Inútil, porém, prosseguir na reprodução do argumento. Mais conveniente será recomendar a leitura direta a fim de que o leitor possa acompanhar de perto todos os passos da análise, para que veja todas as implicações dessa “epistemologia desiludida”, acompanhe o processo de internalização do obstáculo, a maneira pela qual as tensões entre autor e poema se duplicam na relação com o leitor etc.

Após tantas leituras, efetuadas com base em pressupostos teórico-metodológicos diversos e movidas por preocupações nem sempre convergentes, fica-se com a impressão de um debate muito vital ao redor de uma obra que, dividida entre o cansaço e a responsabilidade, a dúvida e o compromisso, continua interrogando o tempo presente.


Fabio Weintraub

editor, poeta, autor de Novo endereço (Nankin/Funalfa)

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