A retórica da exclusividade racista dos brancos

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A retórica da exclusividade racista dos brancos
(Foto: Reprodução/TV Globo)
  “A Democracia que temos hoje no Brasil começou em 1964…”, escreveram no Manifesto do Clube Militar, publicado no dia 19 de fevereiro. A simples ideia de uma democracia instaurada na ou pela ditadura parece intelectualmente repugnante, mas há uma esperteza por trás da frase. Assim como há uma astúcia no texto da professora Lia Vainer Schucman publicado no portal Catarinas em que nega veementemente haver racismo se “um negro discrimina um branco apenas por ter nascido branco”, quando pareceria a todos que discriminar alguém apenas com base na cor da pele é precisamente o que um racista faz. O que temos em comum entre as duas frases? Para que uma ditadura seja vestida de democracia, o truque retórico consiste em mudar inteiramente o significado de democracia. Deixa de ser um regime político baseado na igualdade e na liberdade políticas e passa a ser...  Passa a ser o quê mesmo? Não é preciso colocar um conteúdo novo, é melhor até nem propor um e correr o risco de gerar polêmica. Deixa-se o significado em aberto e espera-se que as pessoas o preencham com sensações e sentimentos. Democracia é uma coisa boa, positiva, seja lá o que signifique, de forma que se a ditadura militar era democracia ou a fundou, então a ditadura também foi uma coisa boa, positiva. Para que se consiga atender à necessidade de que negros nunca possam ser sujeitos do racismo, o truque consiste em mudar o conceito até que só possa ser aplicado a brancos. Ora, a compreensão comum de racismo diz que se trata de uma concepção segundo a qual: a) os seres h

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