Pesquisadores da USP trabalham em projeto de conservação da Casa de Vidro

Pesquisadores da USP trabalham em projeto de conservação da Casa de Vidro
Lina na janela da casa de vidro, 1952 (Foto: Francisco Albuquerque)

Iniciativa inclui mapeamento da vegetação e levantamento topográfico em 3D do terreno; construção foi o primeiro projeto de Lina Bo Bardi

 

 

Traços retilíneos, interação com a vegetação, grandes paredes de vidro e vãos livres sob edificações geométricas. Algumas das principais características da arquitetura de Lina Bo Bardi podem ser observadas em construções como o MASP, o Sesc Pompéia, o Teatro Oficina e a Casa de Vidro, onde a arquiteta ítalo-brasileira viveu com o marido, Pietro Maria Bardi, por mais de 40 anos.

Esta última, localizada em um loteamento da antiga Fazenda de Chá Muller Carioba, na região do Morumbi, em São Paulo, passa por um projeto de preservação coordenado pelo urbanista e professor titular da USP Renato Anelli. Desde agosto de 2016, especialistas em preservação de arquitetura e paisagismo, gestão de patrimônio histórico e engenheiros desenvolvem um plano de gestão para a Casa em uma iniciativa apoiada pela Fundação Getty.

Entre as trilhas sinuosas do jardim, demarcadas por pedras e cacos de cerâmica, pesquisadores da universidade trabalham em uma espécie de ‘inventário’ da vegetação que a própria Lina plantou nas imediações da Casa – uma área de sete mil metros quadrados. Além disso, o projeto também envolve levantamento topográfico em 3D das construções existentes no terreno.

“O jardim ao redor da casa, se por um lado cria um microambiente com uma qualidade de conforto ambiental bastante especial, apresenta uma certa agressividade pelo ambiente úmido à preservação da construção”, afirma o urbanista. “No entanto, a casa está em uma condição de preservação muito boa, ainda mais se tratando de uma construção de 1951”.

Casa de Vidro, projeto de Lina Bo Bardi (Foto: Henrique Luz)

Para o urbanista, a iniciativa é importante porque além de movimentar um estudo interdisciplinar, que mistura história, tecnologia, urbanismo e paisagismo, ela “estimula o desenvolvimento de um método de preservação e de metodologia racional, que associa a conservação e a gestão do patrimônio”. “Como toda idosa ela [a Casa de Vidro] precisa de um cuidado especial”, brinca.

Ícone do modernismo paulista, a Casa de Vidro foi a primeira construção de Lina Bo Bardi, que chegou ao Brasil em 1946 logo após se casar com o jornalista e crítico de arte Pietro Mario Bardi. Anelli afirma que Lina é uma das figuras do modernismo arquitetônico brasileiro que vem ganhando cada vez mais destaque internacional – visto que a Casa de Vidro foi a única construção brasileira selecionada para os projetos de preservação apoiados pelo programa Keeping it Modern, da Fundação Getty, que apoia a realização de planos de gestão e manutenção de bens históricos.

A moradia de vidro do casal Bardi era um ponto cultural muito importante da época. Entre seus frequentadores estavam grandes artistas e intelectuais como Max Bill, Steinberg, Gio Ponti, Calder, John Cage, Aldo van Eyck e Glauber Rocha. Atualmente, é sede do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, que incetiva, desde a década de 90, o estudo e pesquisa na arquitetura, design, urbanismo e arte popular brasileira. Além de encerrar todo acervo do casal Bardi.

“Em meados dos anos 1990 há um retorno do interesse pela arquitetura brasileira. Além de Niemeyer, passam a ser reconhecidos Paulo Mendes da Rocha e Lina Bo Bardi, internacionalmente”, afirma o urbanista. Para ele, é importante valorizar as construções modernistas do Brasil, “um dos países que tem um dos maiores legados patrimoniais mundiais de arquitetura moderna, mas que demorou em perceber que essa arquitetura deveria ser preservada”.

Para o segundo semestre deste ano, está prevista a organização de um encontro internacional para que os resultados sejam compartilhados com pesquisadores e curadores de outros casas de vidro contemporâneas, projetadas pelos arquitetos Philip Johnson, Mies Van Der Rohe e Charles Eames. “O projeto do Getty, no passado, já contemplou dois edifícios brasileiros, a Fundação Oswaldo Cruz e a FAU-USP. Mas acho que a Casa de Vidro talvez seja o maior em termos de recursos, principalmente porque coloca o projeto de Lina no panorama da produção arquitetônica internacional daquele momento”.

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