O testemunho, entre o poético e o político

O testemunho, entre o poético e o político
O escritor Bernardo Kucinski (Foto Carolina Ribeiro / Arte Revista Cult)
  K. O romance K., de Bernardo Kucinski teve sua primeira edição publicada em 2011 pela Expressão Popular e desde então foi traduzido em seis idiomas. O autor – amplamente reconhecido por sua produção jornalística e acadêmica, o que lhe rendeu em 1997 o Prêmio Jabuti de literatura – publicou seu primeiro livro de ficção aos setenta e quatro anos de idade. Kucinski inscreverá, desde as epígrafes, os rastros da cartografia de seu luto: Abril de 1974. Recrudescimento da repressão aos inimigos do sistema. Um jovem casal – ela, química, professora da USP; ele, físico – desaparece sem deixar rastros. O senhor K, proprietário de uma loja de roupas masculinas no tradicional bairro judeu do Bom Retiro e pai da jovem tragada pelo sorvedouro de pessoas, é o protagonista que dá unidade à narrativa. Ele, que fora um resistente judeu na Polônia natal e perdera as irmãs e outros membros da família no Holocausto, se considerava salvo no país que o acolhera algumas décadas antes. Enquanto percorre seu infindável périplo, logo se vê diante de um mundo labiríntico e absurdamente factível. Mas um “pai que procura a filha desaparecida não tem medo de nada. Se no começo age com cautela não é por temor, mas porque, atônito, ainda tateia como um cego o labirinto inesperado da desaparição”. Há também as cartas, que não lhe deixam esquecer. De tempos em tempos são entregues pelo correio, a ofertar à desaparecida produtos de última geração, além de promissores serviços financeiros. Correios e bancos ignoram que a destinatária já

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