O que as últimas pesquisas eleitorais de 2021 projetam para 2022

O que as últimas pesquisas eleitorais de 2021 projetam para 2022

 

O ano de 2021 não está encerrando bem para o bolsonarismo por muitas razões, inclusive as eleitorais. Na pesquisa do Ipec (ex-Ibope), divulgada na terça-feira (14/12), Lula, o arquirrival, mantém-se com uma dianteira de 27 pontos à frente do atual presidente. São 48% das intenções de voto no petista contra apenas 21% em Bolsonaro.

É inusitado ver um presidente em exercício de mandato comer tanta poeira do desafiante. Mas o fato é que, no cenário atual, Lula liquidaria a fatura ainda no primeiro turno. Além disso, a reprovação ao governo e a rejeição eleitoral do presidente Bolsonaro alcançam um patamar altíssimo, em 55%. Lula tem a metade dessa rejeição, o que sinaliza que o antibolsonarismo está se tornando a principal força eleitoral de 2022, enquanto o antipetismo – quem diria? – declina em grande velocidade.

A pesquisa do Datafolha publicada nesta quinta-feira (16/12) aponta na mesma direção: Lula tem mais que o dobro das intenções de voto que Bolsonaro – 48% a 22%. No que se refere à rejeição, 60% não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro, 34% disseram o mesmo de Lula. Ou seja, Lula e Bolsonaro tem um eleitorado consistente e que se mantém fiel, mas a taxa de rejeição indica que há espaço para o crescimento de Lula, mas não para Bolsonaro. Para fins de comparação, Lula tem praticamente a mesma rejeição de Doria e Moro. Ou seja, Lula e Bolsonaro têm um eleitorado consistente e que se mantém fiel, mas a taxa de rejeição indica que há espaço para o crescimento de Lula, mas não para Bolsonaro.

Moro e Doria agora são oficialmente candidatos. As pesquisas não registraram um crescimento da candidatura de Moro proporcional à cobertura que tem recebido da mídia: continua abaixo dos 10% e não se demonstra capaz de tirar votos de Bolsonaro. Na verdade, os números indicam que Moro, Ciro e Doria jogam um campeonato à parte, muito longe dos líderes da corrida, mas disputando eleitor a eleitor em uma faixa ainda diminuta de votos disponíveis.

O caso de Doria é o mais grave, pois parece ter vencido uma prévia para nada, vez que a condição de número dois do bolsonarismo é preferencialmente de Moro. Doria vai amargamente descobrir que há apenas dois movimentos políticos no Brasil hoje, até o momento, com capacidade de eleger um presidente da República: o lulismo e o bolsonarismo. E que as vagas de titulares e suplementes nos dois movimentos já estão tomadas. Vai descobrir que ser mezzo-antipetista e mezzo-antibolsonarista não vai dar uma pizza que preste. Prometeram-lhe uma terceira via, entregaram-lhe uma viela, um beco sem saída.

Além disso, a ideia comprada pelos comentaristas de política de que haveria hoje um centro ideológico em inquieta e intensa busca de um candidato vai se revelando a quimera que sempre foi. Moro é simplesmente o candidato da elite do bolsonarismo, dos ex-bolsonaristas e dos antipetistas que não entregaram a alma ao “capetão”, mas Bolsonaro continua sendo o escolhido da base bolsonarista. E, num país de pobres, como se sabe, a base sempre ganha da elite quando o número importa.

Ciro Gomes termina 2021 como o candidato número 2 da esquerda, sem conseguir expandir, como esperava, para a direita não bolsonarista já disputada por Moro e Doria, e tendo que contar com um centro rarefeito de votos e congestionado de candidatos. Ciro e Moro estão, assim, em compasso de espera: sabem que só têm uma chance se o titular da sua posição for impedido de jogar. O que é possível, mas improvável.

A ideia de terceira via, por outro lado, prova-se um conceito vazio, um engodo, embora os comentaristas de política do jornalismo apoiem-se preguiçosamente nela. Na verdade, os dados mostram que jornalistas e analistas estão falando deles mesmos e dos seus desejos, não dos da população. Quem está sinceramente buscando uma alternativa eleitoralmente viável a Lula e a Bolsonaro é a elite do jornalismo e da opinião pública; os eleitores que já se decidiram não querem uma alternativa, querem um ou outro, na proporção atual de 1/3 para Bolsonaro e 2/3 para Lula. O resto é passarinho voando.

Aparentemente, os jogadores de 2022 já estão em campo. A questão agora é ver como vão se distribuindo os votos, considerando ainda que há um número considerável de não decididos. O segundo grupo (Ciro, Doria e Moro) adoraria vir a ser o pouso escolhido por esses votos-passarinhos que andam voando por aí, e, assim, ser catapultado para a corrida de verdade contra os dois do primeiro grupo. A má notícia para eles é que os indecisos costumam se bandear justamente para os favoritos, não para os do segundo pelotão. A lógica eleitoral continua sendo a de que quem mais voto tem mais voto pode conseguir.

O ano de 2021, assim, encaminha-se para o fim com sinalizações diferentes para os candidatos mais competitivos.

Lula não poderia estar mais otimista, ainda mais com a possibilidade de fechar uma chapa com Alckmin e levar a parte “autêntica” do eleitorado do ex-PSDB, o antigo arquirrival, deixando a Aécio e Doria em fricção interna. E na iminência de virarem cachorros pequenos em mais uma eleição presidencial.

Bolsonaro, por sua vez, resiste à entrada de Moro na disputa, para frustração de muitas redações e muitos escritórios chiques. Por outro lado, não se veem caminhos para expansão eleitoral do atual presidente. Nem parece ter este empuxo para impedir o crescimento de Lula.

Para Ciro, não parece haver outro caminho a não ser reclamar da desfavorável conjunção astral que consistiu em pegar Lula em uma curva ascendente de prestígio e numa corrida de recuperação.

E Moro? Bem Moro, continuará a ser, como diriam as tias de antigamente, um bolsonarista asseado e bem barbeado, mas, por enquanto, tem mais ternos do que futuro.

 

Wilson Gomes é doutor em Filosofia, professor titular da Faculdade de Comunicação da UFBA e autor de A democracia no mundo digital: história, problemas e temas (Edições Sesc SP). Twitter: @willgomes


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