O irreversível tempo da memória

O irreversível tempo da memória

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de julho de 2021 é “memória”


Na perspectiva do estoicismo, deve-se tomar cuidado com as memórias. Isso se deve a dois motivos: 1. A memória é falha e enganosa; 2. Ela tende a engrandecer um passado que é problemático.

Lembre-se que o estoicismo busca a ataraxia, ou seja, a completa ausência de perturbações ou inquietações da mente, concretizando o ideal tão caro à filosofia helênica da tranquila e serena felicidade obtida através do domínio ou da extinção de paixões, desejos e inclinações sensoriais. Então, buscando privilegiar a inquietação, o pensamento estoico tenta direcionar para a supressão das paixões, tornando o indivíduo apático, para alcançar a ataraxia.

Dentre as paixões, a memória é tida como uma faca de dois gumes, porque, enquanto ela é passível de acumular sábios ensinamentos que devem guiar para suprimir as paixões que incomodam o bom viver, ela também guarda em si lembranças que podem despertar o rancor, a vingança, a raiva…

A memória deve ser tomada com razão e cautela, para que ela também não retome apenas lembranças que engrandeçam um passado que para o indivíduo que lembra tenha sido bom, mas que para uma parcela da sociedade tenha sido ruim.

A memória deve bastar no próprio indivíduo e não extrapolar para mudanças sociais. O estoico entende que o desejo de retornar ao passado é uma paixão terrível, não somente para o indivíduo, mas para todos, porque aquele que deseja retornar para o tempo que é lembrado em sua mente causa perturbações, distanciando-o da tão almejada ataraxia.

O estoicismo ensina que a vida é a morte, e que cada momento que se perde no passado deixa de viver o presente e buscar construir um melhor futuro para que todos possam alcançar a paz de espírito.

 

Lucas Casemiro Brizon, 24 anos,
é professor de Filosofia em São José dos Campos – SP.

 

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