O Brasil agoniza

O Brasil agoniza

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de março de 2021 é “luto”


O Brasil está morrendo! E não é só por conta dos quase 280 mil mortos pela covid. É pelo descaso, pela desunião, pela falta de empatia com o próximo e, principalmente pela perda de sua identidade nacional.

As pessoas deixaram de perceber que fazem parte de um todo, que se compõem enquanto sociedade e que formam o povo brasileiro. Deixamos de perceber que as nossas ações [e omissões] ressoam sobre o próximo. Se eu deixar de ajudar alguém, seja com dinheiro, cesta básica, uma “quentinha” ou até um trabalho, alguém [ou uma família] pode morrer de fome. O mesmo ocorre se eu penso que a covid é “só” uma gripezinha e deixo de usar máscara, ou de fazer o distanciamento social etc. Com isso, eu posso contaminar meu pai, minha mãe, meus avós, meus amigos e por aí vai. Eu dissemino o vírus e, assim, contribuo para que médicos e enfermeiros permaneçam mais tempo trabalhando longe de suas famílias pelo medo de contaminar alguém querido.

Pena que isso não é só minha imaginação. É fato! Acontece todos os dias. Basta reparar nas feiras, nos supermercados, nos mercadinhos de bairro, nas ruas e praias. As pessoas andam sem máscara como se a cura da doença já tivesse sido descoberta.

Mas o Brasil não começou a morrer pela covid. Ele vem definhando a cada dia em que alguém se transmuta de pessoa a “cidadão de bem”. A ciência o classifica como “minion”. A política o chama de fascista e eu, particularmente, o considero um imbecil.

Sim, a paciência tem um limite que o enclausuramento social fez questão de nos mostrar. Vivemos uma época que não dá mais para tolerar a imbecilidade deste presidente e seus seguidores. Eles são um câncer no desenvolvimento moral da sociedade. Afinal, pessoas que se dizem religiosas não podem defender que metralhar a petralhada seja uma atitude cristã.

Devo ter faltado na aula de catecismo em que a professora ensinou que Jesus andava armado, batendo ou matando quem pensava contra ele, quem o criticava e quem era diferente. Não me foi mostrado o mandamento que dizia Atirai ou espancai o teu próximo, especialmente se ele for gay. Não consegui achar o versículo que dizia que a vida de mulheres, negros, índios e pobres valem menos do que a vida do “irmão” homem, branco, cis e hétero.

O Brasil começou a morrer no dia em que elegemos o presidente mais despreparado da história. Ele simboliza a ascensão de racistas, homofóbicos, machistas, preconceituosos e autoritários da lama. Saíram dos sepulcros que deixamos entreabertos, desde o período da escravidão e da ditadura militar, como corpos em decomposição perambulando pelas ruas. Exalam o cheiro podre do ódio, da ira, da indiferença, da ganância, da demagogia e da podridão da corrupção. Se você foi um dos que achou que elegendo o “Messias” você estaria contribuindo para o fim da corrupção, aí vai um heads up: você errou feio!

Todos nós erramos. Somos seres humanos e, portanto, falíveis. Eu erro sempre! Todos os dias. E não há problema nisso. O ruim é persistir no erro. É fechar os olhos para o que é certo. É falar quando deveria calar. É ouvir, distorcer e espalhar. Assim, não há problema se você votou 17. O problema mesmo é você continuar apoiando esse presidente após tudo o que aconteceu nestes anos. Pare de forçar a tecla da urna! Se você “adotou” o capitão como seu político de estimação e o defende contra tudo e contra todos, você faz parte desta horda de “zumbis” que vão disseminando fake news, preconceitos, ódio e divisão pelo país.

Não dá mais para agüentar essa política do ódio, da corrupção e os números de mortos e infectados aumentando todos os dias. Enquanto isso, o “paciente zero” deste vírus moral continua de braços cruzados, assistindo as pessoas sufocarem e morrerem sem fazer nada. Absolutamente nada! Apenas com um sorriso no rosto, mascando seus chicletes ou enchendo o “caneco” com seus refrigerantes e, de sobremesa, dando “PT” nas caixas de leite condensado. Ele limpa o pingo de leite do canto da boca com regozijo, enquanto familiares e amigos enxugam suas lágrimas nas portas dos hospitais, pacientes sufocam em casa ou nas camas dos hospitais e os médicos e enfermeiros não tem nem tempo de chorar de desespero, de medo, de angustia, de cansaço e exaustão.

Os “moralistas” de plantão têm desculpas para tudo, desde a alta do combustível, passando pelo desemprego, triscando na saída das multinacionais do país e chegando na pandemia e na vacinação. Todas as desculpas mais estapafúrdias e ilógicas possíveis quanto falar que Papai Noel é comunista porque tem barba e usa roupa vermelha, ou que o Saci esconde uma perna para se fingir de deficiente e receber um auxílio do governo, ou falar que a Mula Sem-cabeça vai tentar ser presidente.

O Brasil é o paciente que agoniza no corredor, respirando com muita dificuldade e com ajuda de aparelhos. Bolsonaro é o espectro que está ao lado da maca, com sua mão cadavérica sob o ombro do paciente e a outra segurando sua foice, só esperando declarar o meu e o seu óbito.

Guilherme Dias Trindade é advogado, comunista,
perfeccionista e um pessimista em desconstrução

 

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