Odiar, verbo intransitivo

Odiar, verbo intransitivo
Marcia Tiburi Foto Simone Marinho
  Há épocas em que predomina o amor e épocas em que predomina o ódio. O problema inevitável ao se teorizar sobre o amor e o ódio é a impossibilidade de avaliar aquilo que é subjetivo e que, no entanto, nos domina. Experimentamos o ódio sem entender dele e, por não entendê-lo, muitas vezes não temos recursos para estancá-lo. Amor e ódio são dessas forças que, sendo opostas, ao mesmo tempo andam juntas compondo um jogo. Às vezes se aproximam demais. São como duas linhas que tendem a se enroscar enquanto flutuam no vento histórico. Pensamos em “cronologia”, em progresso e decadência, mas nos tocamos pouco dos afetos que costuram e descosturam o continuum da história. Ora, poderíamos escrever a história do amor e a do ódio considerando que não há período histórico que não seja regido por eles. Seria a história das influências afetivas nas ações e realizações humanas. Assim, por exemplo, poderíamos contar a história da relação entre a humanidade e a natureza pensando em como a primeira odiou a última. Ou como o próprio afeto odioso ou amoroso nos permite criar uma biografia. Não seria sem propósito perguntar quando amamos mais, quando odiamos mais. As ondas de amor e ódio que sustentam e abalam as sociedades não podem ser controladas simplesmente, mas podem ser manipuladas. Esse controle é possível pela linguagem porque ela é a grande produtora de afetos. Por meio de mecanismos que só parecem sutis a quem se mantém ingênuo, fomenta-se o ódio em escala social pelo bombardeio de imagens terríveis, como as que vemos n

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