“Queda do Lattes evidencia descaso do governo com a ciência”
Desde o último sábado (24), pesquisadores e cientistas brasileiros estão com dificuldades para acessar o Currículo Lattes, plataforma que reúne suas trajetórias acadêmicas.
Em nota publicada na terça-feira (27), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) afirma ter identificado o problema, estar reparando o sistema e que nenhum dado foi perdido. Para alguns pesquisadores, no entanto, a resolução não é tão simples.
Em sua conta no Twitter, Hugo Fernandes, biólogo e professor da Universidade Estadual do Ceará, divulgou um e-mail em que um funcionário do CNPq solicita para empresas parceiras o empréstimo de uma peça (Storage EMC VNX 8000), responsável pelo “apagão do Lattes”.
O storage faz o armazenamento dos dados do sistema. Um “defeito terminal” da peça, portanto, pode implicar a perda de dados que não tinham cópias de segurança. “O equipamento em questão encontra-se fora de garantia e não possui contrato de manutenção corrente que permita um reparo imediato”, lê-se no e-mail divulgado.
A mensagem reforça a ideia manifestada por muitos pesquisadores em suas redes sociais: que a interrupção do sistema é sintomática do desgaste e do desmonte da ciência no país.
“Há muito tempo a plataforma do CNPq estava desatualizada e instável, o que evidencia o descaso do governo com a ciência e a cultura no Brasil”, afirma Luis Felipe Miguel, professor da UnB e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades, em entrevista à Cult. “É muito difícil que se recupere rapidamente”.
Em sua conta do Facebook, o professor da UnB também alertou para ao papel do Lattes na vida intelectual no país: importante para o pagamento de bolsas de pesquisa; por formar um banco público de currículos; essencial para identificar pesquisadores e dar transparência às suas atividades.
Não só o Currículo Lattes, mas todos os sistemas ligados ao CNPq estão fora do ar: Diretório de Grupos de Pesquisa, o Diretório de Instituições, Extrator Lattes e a Plataforma Integrada Carlos Chagas Carlos, com informações de grupos de pesquisa e bolsistas do CNPq.
O poeta e professor de Teoria Literária da UFRJ, Alberto Pucheu, reflete em suas redes sociais que, apesar de seus problemas, o Lattes preserva um rastro da vida e da força dos pesquisadores brasileiros. “De algum modo guarda indicações da memória desse caminho que percorremos com tanto amor, paixão, entrega”, escreve.
