No silêncio, tenho a mim

No silêncio, tenho a mim
(Foto: Rachel Less)

 

Lugar de fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de agosto de 2020 é “solidão”.


Ando só. Isolada. A pandemia me fez assim. Logo eu, que andava em matilha, bandos, revoada.

Agora me vejo só, quieta, silenciosa em mim. Hoje o silêncio é meu maior companheiro – e me dá conselhos, pode isso?

Às vezes me sussurra: psiu, Monica. Nem um piu sobre isso. Em tom suave me pede calma, me indica um filme, um livro. Me manda ouvir a chuva e observar a natureza. Às vezes acho que enlouqueci. Mas não, não é quietude de loucura ou de tristeza. É de observância. Aquilo que me faltava ontem. A escutatória. Hoje ouço.

Confesso que há mais que pingos de chuva nesse barulho. Às vezes ouço cair minhas lágrimas. Ouço seu escorrer em meu rosto de uma vida que me permitia o som da velocidade, do tempo que apenas passava. Hoje ouço a vida. Os meus respiros, o ar que trafega em meus pulmões e sai das minhas narinas. Presto atenção nisso, sobretudo quando faço exercícios respiratórios que me indicaram ser bons para o momento.

Ouço meus momentos, todos. Ouço meu sorrir. Sozinha em cada momento, mesmo quando a casa está habitada, tenho a mim. Nunca fui tão eu. Nunca fui tão minha companheira. Hoje estou em mim. Plenamente. Sinto falta de muita gente, coisas, barulhos e dias. Mas estou quieta. Preciso ouvir o que o momento tem a me dizer.

Enquanto isso declamo minhas orações. Elas são minha conversa mais audível para o momento. Quero falar com Deus, escutar Deus. Acho estranho quem não se permite esse momento para um silêncio de renovação. Precisamos ouvir o que o momento tem a nos dizer. Então, estou em silêncio, e em solitude. Quero ouvir Deus. Silêncio.

Monica Nunes é jornalista em Arapiaca, AL.

 

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