Furacão teve um treco no meio da rua
Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de abril de 2021 é “cura”
Fui com o meu velho Furacão visitar um amigo.
Não era longe, mas era ermo, anoitecia e o tempo estava fechado, embora não tivesse chovido durante o dia todo.
Em poucos minutos notei algo estranho nele, sem saber exatamente o que estava acontecendo.
Parecia que ele estava se arrastando, ficando mais devagar do que era possível esperar da idade dele.
Soluçou duas a três vezes, quase parou, mas continuou, ainda lento.
Eu não sabia se deveria intervir, ou não, pois tinha esperança de que fosse algo passageiro, momentâneo, assim evitando uma possível intervenção errada.
Tentei me lembrar do que aconteceu antes naquele dia, pois fiquei com ele quase o dia todo. Esteve tudo normal. Antes também, tudo normal, nenhuma dica para algum motivo que desse problema.
De repente, ele parou e apagou totalmente.
Tentei, tentei, mas não consegui fazê-lo voltar ao normal.
Quase tive um treco.
O que vou fazer para acudir Furacão neste lugar ermo, já anoitecendo e ameaçando chover?
Vou ligar pedindo socorro.
– Alô! Antonio? É o Ricardo, sei que está meio fora de hora, mas estou em emergência aqui, precisando de ajuda em lugar ermo.
– Tudo bem. O que houve?
– Furacão teve um treco no meio da rua, está aqui “apagadão”.
– Tudo bem, me passa o endereço, vou até aí agora ver o que houve com o seu carro.
Então, em stricto sensu, o termo cura está ligado à saúde de sistema vivo, mas poderia ser de qualquer sistema, vivo, ou não vivo, que fosse danificado e depois consertado, pois cura pode ser o restabelecimento da funcionalidade normal.
Alguém desconfiou de que não se tratava de vida?
José Eduardo Oliveira De Vincenzo, 67, nasceu em Ribeirão Preto.
Divorciado, sem filhos, é analista de sistemas autônomo com especialização
em desenvolvimento e comercialização de softwares para apostadores de loterias.
