Privado: Dicionário particular – para uma crítica prático-poética do consumismo da linguagem

Privado: Dicionário particular – para uma crítica prático-poética do consumismo da linguagem
P de Palavra Um filósofo alemão disse que poderíamos pensar toda a história da filosofia a partir de palavras. Talvez possamos pensar cada vida. Ou a vida em geral. As palavras fazem a história enquanto há uma história das palavras que não se escreve com letra maiúscula. O dicionário pode chegar perto dela. Assim como cada palavra conta sua própria história, da qual a etimologia é apenas o registro mais simples, uma biografia qualquer é feita de palavras. É que palavras permitem contar. Na falta de uma, inexiste a outra: faltam-nos palavras, falta-nos biografia. Ou temos biografias deturpadas por um uso indevido e interesseiro das palavras. Uma vida é feita de palavras que nos constituem sem que prestemos muita atenção nisso. Mais que signos, as palavras são materialidades, são corporeidades. Não nos conhecemos se desconhecemos as palavras de que somos feitos. Elas são como aquelas partes do corpo que só percebemos quando nos faltam. São essenciais, mas sua experiência só nos ocorre acidentalmente. Assim, uma criança que descobre o corpo, descobre a palavra que a ele se relaciona. Como o inesquecível extremo mágico da ação divina: Fiat Lux, ou duas palavras e se fez o mundo. Marcia Tiburi, Caneta sobre papel e flor seca, 2015. Assim como há riqueza de palavras, há pobreza, há miserabilidade. Se a nomeação feita por Adão no Paraíso foi o tempo mais rico na prática das palavras que alimenta nosso imaginário quanto à sua potência, o consumismo da linguagem é o seu tempo mais pobre. Em nossos dias o consumismo é também o

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