Cult celebra bodas de resistência dialogando sobre o futuro do Brasil

Cult celebra bodas de resistência dialogando sobre o futuro do Brasil

 

 

 

O encontro de celebração de 25 anos da publicação no Petra Belas Artes, em São Paulo, reafirmou a esperança de um país diverso, que zela por sua democracia

 

O tradicional cinema da Consolação, o Petra Belas Artes, em São Paulo, teve uma noite de diálogo, pipoca e esperança, na terça-feira (7).  A revista Cult promoveu o encontro “Brasil 2022 – Reflexões sobre cultura e sociedade e perspectivas para o futuro”.  O encontro faz parte da celebração de aniversário de 25 anos da Cult. No entanto, muitos convidados chamaram a atenção que a celebração não é sobre o momento difícil do país e nem poderia. Trata-se de uma comemoração da resistência da mais longeva revista de cultura do país. Por isso, alguns participantes do encontro fizeram questão de contar suas histórias de luta em paralelo com a história da revista. 

 

O encontro teve a mediação da diretora da Cult, Fernanda Paola,  e do jornalista Wellington Andrade.

 

Participaram do encontro diversos nomes da arte, do pensamento e da luta democrática: Augusto de Arruda Botelho, Bernardo Kucinski, Carmen Silva, Christian Dunker, Danilo Santos Miranda, Denise Stoklos, Erika Hilton, Helena Singer, Ivana Bentes, Marcia Semer, Otto, Paulo Martins, Preta Ferreira, Renan Quinalha, Tales Ab’Saber, Tulio Custódio, Tulipa Ruiz.

 

No início do evento, a atriz e dramaturga Denise Stoklos leu o manifesto escrito pela equipe da Cult e Wellington Andrade

 

Trecho:

25 anos. A mais longeva revista de cultura do país estaria comemorando apenas suas bodas de prata, não fossem também bodas de resistência. A tudo o que o país não é e está sendo. A tudo o que o cidadão não quer e com que está consentindo. Ao modo como a arte, a cultura e a educação estão sendo sangradas dia após dia e minguando. A campanha #cult25anos vai distribuir fitinhas do Bonfim com as frases: “Faça 3 pedidos para o Brasil”, “Votai por nós” e “Livrai-nos do mal”. Amarre a fitinha, feche os olhos e peça pelo país. Guiados pela fé ou pela razão. Pouco importa. O Brasil vai dar certo porque nós todos – sensíveis à beleza, defensores da diferença, contrários ao desgoverno das coisas – assim o desejamos! 

 

“Propor o debate é uma função fundamental da arte e da cultura. Imaginar a cultura como algo que vai tratar apenas do periférico, do que não é importante, do que não está na essência da economia e da produção, é uma visão deturpada.”, disse Danilo Santos de Miranda,  diretor regional do Sesc São Paulo.

 

Para direcionar as falas sobre as perspectivas do Brasil, os mediadores fizeram perguntas que conseguiram conservar o bom humor e a dinâmica. Quais são as saídas? Onde fica a porta de emergência? Qual é a doença e quais são as metástases em nosso país?

 

A pesquisadora da UFRJ, Ivana Bentes, comentou sobre o parasitismo brasileiro. “A gente elegeu um presidente vírus com ideias parasitas que se multiplicam. Eu trabalho com o estudo do meme e memética e essa metáfora do vírus tem relação com a nossa situação. O Richard Dawkins escreveu o ‘O gene egoísta’, que quer se auto replicar, predar e auto preservar. Pra mim é uma metáfora perfeita dessa elite, aliás, elite não, desse grupo que hackeou o estado brasileiro”, disse durante a sua fala.

 

A cantora Tulipa Ruiz disse à Cult que encontros como este promovido pela Cult vão pautar as disputas de narrativas. “A minha única esperança é nessa troca, nesse encontro, nessa soma. As coisas estão muito difíceis. Nesses encontros eu consigo falar sobre meus medos e minha subjetividades. É um lugar de esperança. Esses encontros enchem a gente de coragem e o momento exige da gente coragem.”

O advogado e escritor Augusto de Arruda Botelho lembrou que “Bolsonaro será vencido nas urnas, mas o bolsonarismo continuará presente”. Por isso, é necessário articulação e união.

“Precisamos com urgência de nossa democracia de volta. Não há urgência maior do que o resgate de nossos direitos constitucionais, do que a vida do povo preto e indígena, de se comunicar e expressar nossas opiniões. Nossa urgência maior é pela vida. Nossa urgência maior é dizer ‘Fora, Bolsanaro'”, resumiu a multiartista Preta Ferreira, recebendo muitos aplausos.

A vereadora Érika Hilton se emocionou ao ver a exibição das capas da Cult em um telão por conta da sua representatividade de mulher negra e transvestigênere. “Olhando essas capa com figura tão ilustres, tão importantes, de repente eu vejo a minha capa passando ali. Quero agradecer porque sei como foi importante na minha trajetória.” Nossa construção, nossa resiliência, nossa resistência serão os nossos motores do Brasil que vai dar certo”, afirma Hilton.

 

O cantor Otto relembrou a importância da arte nos momentos difíceis. “Eu não consigo viver em um mundo que não tem arte e onde tem miséria. Eu não consigo acordar e achar que está tudo ganho. Então, tome arte.”

 

“A história da Cult reforça a confiança de que arte, cultura e jornalismo também podem ser iniciativas de editoras independentes, sem recursos públicos ou ‘acordis'”, afirma Daysi Bregantini, diretora da revista Cult. “Espero que o Brasil conquiste mais justiça social e a contribuição da Cult para alcançar esse objetivo é continuar compartilhando o conhecimento”, conclui.

 

 

 

 

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