As estradas são para ir

As estradas são para ir
(Foto: Arte Revista Cult)

 

Lugar de fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de dezembro de 2020 é “renascimento”.


Naquela manhã de terça-feira o calendário me disse que era nove de janeiro. Meu quase nulo conhecimento sobre numerologia me limitou a avisar que o nove simboliza o final de um ciclo e o começo de um novo. Me convenci que estava escrito no tempo: eu não teria outra opção a não ser renascer. Lembrei do título de um livro que nunca comprei e que nunca esqueci: “As estradas são para ir”. Então eu fui!

Olhei pros medos, encarei a perda próxima, aceitei a cicatriz na pele, chorei tudo o que tinha segurado há tempos. Consenti os excessos e as falhas. Relevei as faltas. E por três meses o tempo foi meu terapeuta.

Renascer é tornar-se novo. Mas reparo em volta e vejo que não ganhei um novo nome. Não fiquei com uma nova pele. Não apaguei o passado nem esqueci quem eu era. Nenhum novo traço me foi dado. Meu rosto no espelho ainda era reconhecível. É que o nascer é físico mas o renascer é ritual. É fazer-se recinto para o que está por vir.

Renascer é começar uma viagem sem saber pra onde. É o abandono daquilo que se sabe para conhecer o que precisa. Não é cair, é despencar. Pra depois, enfim, levantar.

Se foi coragem eu não sei. Mas que bom que o renascimento me escolheu naquele nove de janeiro. Que bom que não fugi. Desde que o encontrei nunca mais me perdi.

Lucélia Gomes Pereira, 24,
mora em Santa Rita (PB) e é jornalista.

 

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