Antes que seja tarde

Antes que seja tarde

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de setembro de 2021 é “manifestação”


 

O termo manifestação tem uma conotação política bastante forte que evoca cenas de pessoas reunidas em um evento empunhando bandeiras e bradando palavras de ordem. Muitas manifestações são justas e necessárias, enquanto outras são descabidas e desprovidas de qualquer significado minimamente plausível.

Deixemos as manifestações de cunho político de lado e nos atenhamos a um diferente significado ao qual o vocábulo nos remete. De acordo com o Dicionário Michaelis On-line, um dos sinônimos de manifestação é o “ato de revelar ou transparecer um sentimento”.

Segundo o mesmo dicionário, carinho é definido como: 1. manifestação de ternura que geralmente envolve contato físico; afago, carícia; 2. manifestação de cuidado em relação a alguém ou alguma coisa; desvelo.

Manifestar carinho ativa a liberação dos hormônios que ajudam no combate ao estresse e à tristeza. Receber carinho é um direito e ativa os mesmos hormônios.

Carinhoso(a) leitor(a), é triste nos lembrarmos de alguma vez em que nos foi solicitado carinho e que, aquietados, não pudemos manifestá-lo. Seja por ingenuidade, negligência, ou simplesmente por falta de condições psicológicas para tal. O fato é que esse carinho negado tende a ressurgir em formato de arrependimento e de culpa, inquietando-nos. Quando nos damos conta já é tarde para reverter a insensatez.

Quantas vezes os pais doentes exigiram um carinho que lhes foi recusado? Quantas vezes um filho suplicou um afago e só recebeu repreensão? Quantas vezes um estranho quis ser ouvido e nem sequer foi escutado? Quantas vezes um amigo pediu colo e recebeu um “eu te avisei!”? Quantas vezes um animal carente tentou se aproximar e recebeu um “sai pra lá!”?

Situações do nosso cotidiano que passam despercebidas e mais tarde clamam por reconsideração. E aí os pais se foram, os filhos cresceram, os estranhos partiram, os amigos se distanciaram e os animais fugiram. E aí é tarde para reparos.

 

Déa Araujo, 60, é mineira de Juiz de Fora. Cursa Bacharelado em
Tradução na UFJF. Dentista aposentada, reinventou-se na escrita

 

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