“A música serve para denunciar, para gritar”

“A música serve para denunciar, para gritar”

Foto: Stephane Goanna Munnier/Divulgação

Nathalia Parra

“A mulher do fim do mundo são todas as mulheres”, conta Elza Soares quando questionada quem é a mulher que dá nome ao seu último álbum, lançado há cerca de um ano. A cantora se apresenta nesta quinta (27), sexta (28) e sábado (29) no palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, para o lançamento da versão em vinil do disco, extremamente elogiado até pela crítica estrangeira.

“Cadê meu celular?/ Eu vou ligar pro 180/ (…) Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, narra em sua canção Maria da Vila Matilde, expondo a realidade acerca da violência masculina contra a mulher. O tema percorre todo o disco.  “A música serve para denunciar, para gritar. Muitas vezes nós gritamos e as pessoas não nos ouvem”, diz a cantora. Ela divide o palco com Liniker nos shows de quinta e sexta.

No Brasil, a cada uma hora e meia uma mulher é morta. Essa é a estimativa do número de vítimas de feminicídio no país, crime configurado pelo óbito devido à condição de sexo. Segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil, as mulheres negras representam cerca de 66,7% do total de casos. Em “A Carne”, música de 2002, Elza já cantava: “A carne mais barata do mercado é a carne negra”.

Denunciar por meio do 180 se tornou uma medida possível há dez anos, com a implementação da Lei Maria da Penha. Apesar da conquista, diz Elza, muitas mulheres ainda não têm coragem de denunciar seus agressores, que, na maioria dos casos, são parentes imediatos, parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

Quanto ao antigo desejo da cantora de ver mulheres no poder, Elza lamenta pelo cenário político vigente. “A gente se sente um pouco órfã”, comenta sobre o governo Dilma Rousseff, afastado definitivamente há quase dois meses. “Pensei que seria mais forte e duradouro, mas não foi.”

 

Elza Soares: A Mulher do Fim do Mundo
Quando: De 27 a 29/10 quinta a sáb., 21h00
Onde: Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195, metrô Faria Lima
Quanto: R$ 60 (inteira); R$ 30 (meia)

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