A criação artística como metamorfose

A criação artística como metamorfose
Michelangelo, Moisés, 1513-1515 (Basílica de São Pedro, Roma/Divulgação)
  Os textos de Freud sobre estética foram, em geral, muito criticados. Neles, denunciava-se o fato de que as obras de arte eram interpretadas como meras projeções da vida de seus autores. Com isso, Freud ignorava ou, no mínimo, não levava em consideração a autonomia das obras, o seu caráter propriamente estético ou ainda a sua forma. Mesmo entre os psicanalistas, essa desconfiança é muito forte. Entretanto, uma leitura mais atenta e cuidadosa desses textos, favorecidos que somos pela distância histórica que nos separa do seu primeiro impacto, pode nos abrir novas possibilidades de leitura. Não se trata, evidentemente, de ignorar as críticas e mesmo de considerá-las pertinentes e sim ao contrário, de tentar entender o que está em jogo neles, não apenas a partir de uma análise interna à obra de Freud, mas também de indicar o diálogo que eles estabelecem com a tradição dos estudos de estética e, ao mesmo tempo, com questões e problemas colocados na sua própria época. Com isso, retiram-se esses textos de seu lugar secundário, como se eles fossem um subproduto no interior do pensamento de Freud, um exercício de diletantismo por parte dele. Ao contrário, é preciso jogar Freud contra Freud, ou seja, lê-los em grande parte a contrapelo das posições explícitas que o próprio Freud tomou em relação ao seu interesse por arte. Em outras palavras, é preciso desconfiar de Freud ou, no mínimo, não tomar muitas de suas declarações como uma confissão de humildade ou do reconhecimento, puro e simples, de certa incompetência que ele pr

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