Notícias de outras ilhas: Lubi Prates

Notícias de outras ilhas: Lubi Prates
(Foto: Mayara Barbosa)

 

Lubi Prates (1986, São Paulo/SP) é poeta, tradutora, editora e curadora de Literatura. Tem três livros publicados (coração na boca, 2012; triz, 2016; um corpo negro, 2018). um corpo negro foi contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia e está em processo de publicação na Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Espanha e França, além de ter sido finalista do 61º Prêmio Jabuti e do 4º Prêmio Rio de Literatura. Tem diversas publicações em plaquetes, antologias e revistas nacionais e internacionais. Organizou os festivais literários para visibilidade de poetas, [eu sou poeta] (São Paulo, 2016) e Otro modo de ser (Barcelona, 2018) e também participou de outros festivais literários no Brasil e em outros países da América Latina. É sócia-fundadora e editora da nosotros, editorial, e é editora da revista literária Parênteses. Dedica-se a ações que combatem a invisibilidade de mulheres e negros. Atualmente, é doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento Humano, na Universidade de São Paulo.

Para a seção “Notícias de outras ilhas” – em que poetas, escritores e tradutores sugerem leituras para o período da quarentena –, indica três poemas de Lucille Clifton. A curadoria é de Tarso de Melo. Leia os poemas e o comentário do poeta abaixo.

Desde que me entendi como uma mulher negra, tenho buscado aquelas que vieram antes de mim e me conectado com os ensinamentos que elas construíram. Durante esse tempo de recolhimento social, tenho me guiado da mesma maneira, estudando poetas negras de diferentes países e idiomas e uma delas tem me acompanhado de maneira mais frequente: Lucille Clifton (1936-2010), poeta estadunidense super reverenciada, mas que desconhecemos no Brasil. Com Good Woman: Poems and a Memoir: 1969–1980, e Next: New Poems, ambos de 1987, Lucille concorreu ao Prêmio Pulitzer e com Blessing The Boats: New and Collected Poems 1988–2000, de 2000, ganhou o National Book Award. Os três poemas abaixo foram traduzidos por mim e contaram com os olhos atentos do Manu Quadros, a quem agradeço.

Na mesma toada dos poemas, de busca por outras referências de mulheres negras de gerações anteriores, indico a série “A vida e a história de Madam C. J. Walker” e o documentário “Minha vida”, ambos disponíveis na Netflix.

 

as mulheres perdidas

eu preciso saber os nomes
daquelas mulheres com quem eu teria caminhado
alegremente como fazem os homens em grupo
balançando os braços, e daquelas mulheres
suadas com quem eu teria me juntado
depois de uma partida difícil para jogar conversa fora.
do que teríamos chamado umas às outras rindo
brincando na nossa cerveja? onde está minha gangue,
meu time, minhas irmãs extraviadas?
todas as mulheres que poderiam ter me conhecido,
onde nesse mundo estão seus nomes?

***

irmãs

você e eu somos irmãs.
somos iguais.

você e eu
vindas do mesmo lugar.

você e eu
passando óleo nas pernas
retocando nossas raízes.

você e eu
com medo de ratos
pisando nas baratas.

você e eu
descendo alegres correndo a rua purdy aquela vez
e a mãe rindo e balançando a cabeça para
você e eu.

você e eu
tivemos bebês
fizemos trinta e cinco
enegrecemos
deixamos nossos cabelos voltarem
amando nós mesmas
amando nós mesmas
somos irmãs.

apenas onde você canta,
eu sou poeta.

***

você não vai celebrar comigo?

você não vai celebrar comigo
isto que eu moldei como
um tipo de vida? eu não tive nenhum modelo.
nascida na babilônia
não branca e mulher.
o que eu imaginei ser além de mim mesma?
eu forjei isso.
aqui nesta ponte entre
a luz da estrela e a argila,
minha mão segurando firme
minha outra mão; venha celebrar
comigo, que todos os dias
alguma coisa tenta me matar
e falha.


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