Gratuita, exposição sobre jornalismo em quadrinhos abre em SP

Gratuita, exposição sobre jornalismo em quadrinhos abre em SP
Trecho da reportagem em quadrinhos 'Quatro Marias', de Helô D'Angelo (Arte: Helô D'Angelo/ Reprodução)

 

Nesta quinta (15), teve início a exposição Jornalismo em Quadrinhos, na Matilha Cultural, no centro de São Paulo. A mostra, que reúne reportagens, entrevistas e perfis em quadrinhos, traz trabalhos de Alexandre De Maio, co-autor da reportagem Meninas em jogo (2014); Carolina Ito, da Revista TPM; Helô D’Angelo, da CULT, e Robson Vilalba, autor do livro Notas de um tempo silenciado (2015).

“A ideia é dar visibilidade para esse novo gênero e que o visitante consiga ter contato com os diversos formatos de jornalismo em quadrinhos”, diz De Maio, que lançou Raul (Elefante), seu primeiro livro-reportagem em quadrinhos, na abertura da exposição. Tido como um dos maiores expoentes do gênero no Brasil, foi dele a ideia da mostra, gratuita e em cartaz entre 15 de março e 8 de abril na Matilha Cultural.

Na seleção, há 40 obras jornalísticas dos quatro autores, tanto em formato impresso quanto digital – um notebook permite que os visitantes naveguem por matérias em quadrinhos online. Entre elas, há algumas publicadas na CULT, como Cássia Eller de peito aberto no Rock in Rio e um perfil da fotógrafa Nan Goldin. Há, também, a reportagem Quatro Marias – uma reportagem em quadrinhos sobre as realidades do aborto no Brasil, de Helô D’Angelo.

“Queremos acabar com o mito de que HQs são uma forma de linguagem para crianças, já que na Matilha Cultural as pessoas terão contato com quadrinhos que abordam questões profundas, como exploração sexual infantil, aborto e política”, afirma De Maio. Como exemplo, ele cita seu livro Raul, que mostra como funcionam os golpes de cartão de crédito no Brasil.

Parte da reportagem em quadrinhos 'Assédio no Carnaval', de Helô D'Angelo (Arte: Helô D'Angelo/ Catraca Livre/ Reprodução)
Parte da reportagem em quadrinhos ‘Assédio no Carnaval’, de Helô D’Angelo (Arte: Helô D’Angelo/ Catraca Livre/ Reprodução)

Representatividade

Na abertura, o quadrinista mediou um breve bate-papo sobre seu livro junto ao escritor Ferréz. Também mediou uma conversa sobre jornalismo em quadrinhos e representatividade, com a participação de Carolina Ito, Helô D’Angelo e da rapper Luana Hansen – que, além de tecer críticas sobre a dificuldade de ser mulher, negra e lésbica no meio do rap, também fez um pocket show ao final do evento.

Durante o bate-papo, Helô D’Angelo sublinhou a necessidade de “aceitar o jornalismo em quadrinhos como um novo meio de informação” e “parar de considerá-los como algo infantil e sem profundidade”. Já Carolina Ito, que também é dona da Políticas – página digital que divulga quadrinhos políticos de autoria feminina – abordou a desigualdade de gênero ainda marcante no mundo dos quadrinhos.

“Ainda há poucas mulheres no meio mainstream da HQ, e há menos ainda no jornalismo em quadrinhos, que é o nicho do nicho. Precisamos mudar isso urgentemente”, disse a jornalista. “Ao mesmo tempo, não achem que porque sou mulher só vou falar de representatividade feminina no meu trabalho. Isso é importante, mas quero falar de política, violência, cultura, tudo”, completou.

Além da mostra, De Maio deve ministrar um workshop gratuito sobre a história do jornalismo em quadrinhos na própria Matilha Cultural, no dia 31 de março. Os quatro autores também se reunirão no local para um bate-papo ampliado e também gratuito sobre o mercado do jornalismo em quadrinhos e as dificuldades da profissão.

Homenagem

O evento de abertura foi dedicado à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada na última quarta (14), no centro do Rio de Janeiro. Com exceção de Robson Vilalba, que não pode comparecer, os artistas prestaram uma pequena homenagem: cada um criou um retrato de Marielle, e o conjunto acabou se tornando mais uma peça da exposição.

“Marielle representava uma renovação na política e uma ameaça ao poder estabelecido e a essa intervenção militar oportunista”, afirmou De Maio. “Era uma guerreira por direitos, uma mulher tão necessária que foi vítima dessa sociedade violenta em que vivemos. Nossa homenagem não poderia ser outra”.

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