Arcas de Babel: Daniel Arelli traduz Hans Magnus Enzensberger

Arcas de Babel: Daniel Arelli traduz Hans Magnus Enzensberger
Daniel Arelli: Enzensberger foge ao caráter “grave e austero” comumente atribuído ao “espírito alemão” (Fotos: Mauro Figa e Divulgação)

 

A poesia leva ao que há de mais singular em cada língua e desafia a experiência da tradução. Entretanto, muitas e muitos poetas traduzem, e às vezes a escrita poética surge junto com um olhar estrangeiro para a própria língua, vem com a consciência de sua singularidade, entre tantas outras. Esse estranhamento intensifica as forças de transformação no interior das línguas, estendendo seus limites, ampliando seus horizontes. E nunca precisamos tanto dos horizontes que a poesia projeta, agora que uma nuvem pesada encobre perspectivas de futuro… Talvez traduzir poesia seja um modo de contribuir para a construção, não de uma torre, mas de uma ponte ou de uma arca utópica que nos ajude a atravessar o dilúvio. Que nela, aos pares, as línguas se encontrem, fecundas.

A série Arcas de Babel acolhe semanalmente traduções de poesia e está aberta também a testemunhos sobre a experiência de traduzir.

Hoje o poeta e professor Daniel Arelli nos traz do alemão poemas inéditos em português de Hans Magnus Enzensberger, poeta ainda pouco conhecido no Brasil, que ele também apresenta.

Daniel Arelli é doutor em filosofia pela Universidade de Munique e professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Publicou os livros de poesia Lição da matéria e Pavilhão (Edições Macondo), além de livros e artigos de filosofia. Trabalha também na tradução da poesia completa de Hannah Arendt, a ser publicada em breve pela editora Relicário.

***

Hans Magnus Enzensberger é amplamente considerado um dos mais importantes escritores alemães do pós-guerra. Nascido em 1929 em Kaufbeuren, na Baviera, Enzensberger pertence à geração à qual coube reconstruir a Alemanha após o horror do nacional-socialismo. Escritor multifacetado e prolífico, Enzensberger vem publicando, desde sua estreia em 1957 com o livro verteidigung der wölfe (defesa dos lobos), uma vasta obra em virtualmente todos os gêneros literários. Pode-se dizer que é um representante daquela estirpe de escritores alemães que fogem ao caráter “grave e austero” comumente atribuído ao “espírito alemão”. Como se verá, sua obra é marcada por um manejo cortante e arguto da (auto)ironia e do humor, mesmo (e talvez sobretudo) quando sua escolha temática recai sobre objetos tidos tradicionalmente como elevados, como é o caso dos objetos do mundo intelectual.

Travei contato com a obra de Enzensberger há cerca de uma década, quando passei, por ocasião de uma temporada de estudos, a residir na terra natal do poeta. Por acaso, encontrei num sebo uma pequena antologia de poemas dos seus três primeiros livros, publicada em 1971 na coleção suhrkamp taschenbuch. Os poemas dessa antologia logo me impressionaram pela riqueza técnica e temática, pelo uso dessacralizante e criativo das mais variadas referências (da cultura pop à matemática), pela reflexão da experiência geracional que parecia se sedimentar ali. Desde então, venho acompanhando e traduzindo sua extensa e inquieta obra poética. Em novembro do ano passado, o poeta completou 90 anos.

Os poemas apresentados aqui pretendem fornecer um recorte transversal de sua obra ao leitor brasileiro, já que a produção poética de Enzensberger permanece pouco conhecida entre nós. Salvo engano, a única recolha de seus poemas em livro encontra-se na antologia Eu falo dos que não falam (Trad. Armind Trevisan e Kurt Scharf, Ed. Brasiliense, 1985), há anos esgotada. O poema “Eventualmente” pertence ao último livro do autor, Wirrwarr (Balbúrdia), publicado em fevereiro deste ano.  -Daniel Arelli

 ***

Uma pálida lembrança

 

Em nossos debates, camaradas,
às vezes tenho a impressão
de que esquecemos alguma coisa.
Não é o inimigo.
Não é a linha.
Não é o objetivo.
Não se encontra no Breve Curso.
Se nunca tivéssemos sabido
não haveria batalha.
Não me perguntem o que é.
Eu não sei como se chama.
Só sei que
o que esquecemos
é o mais importante.

 

Creditur

 

Mesmo no puro nada
tem coisa.
Dor de barriga
para metafísicos.
Inventar o zero
não foi mamão com açúcar.

E foi só dar na telha
de algum indiano
que algo poderia ser
menos que nada
para os gregos entrarem em greve.

Para o teólogo também
não foi muito agradável.
Ilusão, disse,
tentação do capeta.

Devem ser números naturais,
gritaram os céticos,
menos um, menos um bilhão?

Só quem tinha dinheiro
– uma minoria –
não tinha medo:

dívidas, amortizações,
débito duplicado…
O mundo está com desconto.
A aritmética, uma cornucópia.

Temos todo o crédito,
disseram os banqueiros.
Coisa de fé.

Desde então só faz crescer
o que é menos que nada.

 

Resolução contra a baderna

 

A manifestação
não transcorreu de modo disciplinado
Reportaram que alguns camaradas
até jogaram pedras
Uma cerca de contenção
foi derrubada
O veículo de um operário
de tipo Giulietta Sprint
foi danificado
durante a construção de uma barricada

O Comitê Central
se distancia
de tais excessos
Fazemos crítica e autocrítica
Declaramos solenemente
que não somos pequeno-burgueses
E vimos por meio desta
com a expressão de nosso pesar
declarar que retiramos
a barricada

 

Sobre uma mesa de pedra

 

I
No mundo estava a tua mesa
com suas veias e olhos
com sua memória de mármore
não descartável e sólida

Sobre a mesa estava a tua mão
com suas veias e marcas
com sua memória de mármore
intransponível e sólida

Sobre os velhos livros
sobre os novos jornais

um copo de água fresca

II
Li a tua mesa
li a tua mão
(lisa, intransponível)

Vi sangue nos jornais
Vi sangue na tua mão
Vi sangue na pedra

Li e reli
quase tudo o que era o caso

sobre a tua mesa, o mundo

um copo de água fresca

 

Homenagem a Gödel

 

O teorema de Münchhausen: cavalo, pântano, cabelo,
é encantador, mas não se esqueça:
Münchhausen era um mentiroso.

O teorema de Gödel parece, à primeira vista,
pouco atraente, mas veja:
Gödel tem razão.

“Em cada sistema suficientemente rico
podem ser formuladas sentenças
que de dentro do sistema não são
nem demonstráveis nem refutáveis,
a não ser que o sistema seja
ele próprio inconsistente”.

Você pode descrever a sua língua
na sua própria língua:
mas não inteiramente.
Você pode investigar o seu cérebro
com o seu próprio cérebro:
mas não inteiramente
etc.

“Suficientemente rico” ou não:
Ausência de contradição
é sintoma de um déficit
ou uma contradição.

(Certeza = inconsistência).

Todo cavaleiro pensável,
isto é, também Münchhausen,
isto é, também você é um subsistema
de um pântano suficientemente rico.

E um subsistema desse subsistema
é o próprio cabelo
esse guindaste
para reformistas e mentirosos.
Em todo sistema suficientemente rico
isto é, também neste pântano aqui,
podem ser formuladas sentenças
que de dentro do sistema não são
nem demonstráveis nem refutáveis.

Tome essas sentenças na mão
e puxe!

 

Problemas

 

1. Há problemas.
2. Há duas classes de problemas.
2.1. Há problemas solúveis e insolúveis.
2.1.1. Há duas classes de problemas solúveis.
2.1.1.1. Há problemas solúveis que se pode demonstrar que são solúveis.
2.1.1.2. Há problemas solúveis que não se pode demonstrar que são solúveis.
2.1.2. Há duas classes de problemas insolúveis.
2.1.2.1. Há problemas insolúveis que não se pode demonstrar que são insolúveis.
2.1.2.2. Há problemas insolúveis que se pode demonstrar que são insolúveis.
3. São esses os problemas que a humanidade tenta resolver desde que se tem registro.

 

Uma última contribuição à pergunta: literatura?

 

Caros colegas, não entendo vocês.
Por que vocês ainda citam a estética de Hegel e de Lukács?
Por que vocês se elevam, dia após dia,
ao atual estágio histórico?
Por que vocês se irritam
com o que leem no Livro Didático?
De onde vem esse medo de se tornarem clássicos
ou o contrário?
E por que vocês temem
ser palhaços?
servir ao povo?

Pagar impostos
mudar a sociedade
fazer notas de rodapé, mas não muitas
evitar clichês
desenvolver consciência crítica:

Caros irmãos em Apolo,
tudo isso é muito bonito.
Mas por que vocês têm tanto medo
de que os críticos
de que a imprensa
de que o mercado de trabalho
de que a moda?
Tudo bem, tudo bem,
eu sei.
Mas nada disso é motivo para tanto.

Pois eu digo:
Não tenham medo!
Mandem brasa!
Façam o que quiserem!

“Toma dos meus lábios o feitiço,
toma do meu peito o perfume,
que provarei de tuas rosas o viço…”
Gosto disso.
Ao menos neste momento.
Vocês não gostam.
Façam outra coisa!

Taking Tiger Mountain by Strategy
ou
Marie Claire te ajuda por toda a vida
Editamos também páginas em branco,
poemas visuais em salsichas,
cartazes para um mundo melhor!

Não tenham medo!
Morram de trabalhar
ou de tédio,
mas não tenham medo.
Isso não nos concerne.
Para isso afinal somos pagos.

Por que vocês não confessam
o que vocês têm
de que vocês gostam?
Uma única vez,
apenas uns três meses,
como teste!
Então veremos.

Ninguém faz nada com vocês.

 

Eventualmente

 

Por ora estou aqui ainda. Persisto
como, lá em cima, a mariposa negra
na parede branca. Não me mexo.
Minhas disposições são provisórias.
Nenhuma eureka. Só às vezes

minúsculas revelações, de milímetros,
passageiras como a felicidade, como o fumo
do quase último cigarro.
Quase tudo evapora-se como perfume
numa garrafa sem tampa.

Dizem os astrofísicos
que nem o sol é tão durável
quanto seu brilho. A Última Instância
é apenas um bar no qual os advogados
matam o tempo.

O Juízo Final pode esperar.
Paciência, digo a mim, sem pânico!
Vai saber se a gente pode mesmo
confiar no transitório. Só a morte,
dizem os mortais, é definitiva.

Mas vamos os dois despertar
quando tocarem as trombetas,
vamos nos dar conta dele,
do nosso renascimento,
eu e aquela traça preta ali?

 

***

 

Eine schwache Erinnerung

 

Bei unsern Debatten, Genossen,
kommt es mir manchmal vor
als hätten wir etwas vergessen.
Es ist nicht der Feind.
Es ist nicht die Linie.
Es ist nicht das Ziel.
Es steht nicht im Kurzen Lehrgang.

Wenn wir es nie gewusst hätten
gäbe es keinen Kampf.
Fragt mich nicht was es ist.
Ich weiss nicht wie es heisst.
Ich weiss nur noch
dass es das Wichtigste ist
was wir vergessen haben.

 

Creditur

 

Schon das schiere Nichts
hat es in sich.
Bauchschmerzen
für Metaphysiker.
Die Null zu erfinden
war kein Zuckerlecken.

Als dann auch noch
irgendein Inder
auf die Idee kam, etwas
könne weniger sein als nichts,
streikten die Griechen.

Auch den Gottesgelehrten
war nicht wohl dabei.
Blendwerk, hieß es,
eine Versuchung des Teufels.
Das sollen natürliche Zahlen sein,
riefen die Zweifler,
minus eins, minus eine Milliarde?

Nur wer Geld hatte,
und das waren die wenigsten,
der hatte keine Angst:

Schulden, Abschreibungen,
doppelte Buchhaltung.
Die Welt wurde abgezinst.
Die Arithmetik – ein Füllhorn.

Wir haben alle Kredit,
sagten die Banker.
Eine Sache des Glaubens.

Seitdem wird immer größer,
was weniger ist als nichts.

 

Beschluss gegen das Abenteuertum

 

Die Demonstration
ist nicht diszipliniert verlaufen
Manche Genossen
sollen sogar mit Steinen geworfen haben
Ein Bauzaun
ist umgeippt
Der Wagen eines Werktätigen
Typ Giuletta Sprint
wurde beschädigt
beim Bau einer Barrikade

Das Zentralkomittee
distanziert sich
von solchen Ausschreitungen
Wir üben Kritik und Selbstkritik
Wir erklären feierlich
dass wir keine Kleinbürger sind
Infolgedessen nehmen wir hiermit
und mit dem Ausdruck unseres Bedauerns
die Barrikade
zurück

 

Auf einen steinernen Tisch

 

I
Auf der Welt war dein Tisch
mit seinen Adern und Augen
mit seinem Marmorgedächtnis
nicht zu verwerfen und fest

Auf dem Tisch war deine Hand
mit ihren Adern und Zeichen
mit ihrem Marmogedächtnis
undurchdringlich und fest

Auf den alten Büchern
auf den neuen Zeitungen

ein Glas frisches Wasser

II
Ich las in deinem Tisch
Ich las in deiner Hand
(glatt, undurchdringlich)

Ich sah das Blut in den Zeitungen
Ich sah das Blut in deiner Hand
Ich sah das Blut im Gestein

Ich las und las

fast alles was der Fall war

auf deinem Tisch war die Welt

ein Glas frisches Wasser

 

Hommage à Gödel

 

Münchhausens Theorem, Pferd, Sumpf und Schopf,
ist bezaubernd, aber vergiss nicht:
Münchhausen war ein Lügner.

Gödels Theorem wirkt auf den ersten Blick
Etwas unscheinbar, doch bedenk:
Gödel hat recht.

“In jedem genügend reichhaltigen System
lassen sich Sätze formulieren,
die innerhalb des Systems
weder beweis- noch widerlegbar sind,
es sei denn das System
wäre selber inkonsistent.”

Du kannst deine eigene Sprache
in deiner eigenen Sprache beschreiben:
aber nicht ganz.
Du kannst dein eigenes Gehirn
mit deinem eigenen Gehirn erforschen: aber nicht ganz
Usw.

Um sich zu rechtfertigen
muss jedes denkbare System
sich transzendieren,
d.h. zerstören.

“Genügend reichhaltig” oder nicht:
Widerspruchsfreiheit
ist eine Mangelerscheinung
oder ein Widerspruch.

(Gewissheit = Inkonsistenz)

Jeder denkbare Reiter,
also auch Münchhausen,
also auch du bist ein Subsystem
eines genügend reichhaltigen Sumpfes.

Und ein Subsystem dieses Subsystems
Ist der eigene Schopf,
dieses Hebezeug
für Reformisten und Lügner.
In jedem genügend reichhaltigen System
also auch in diesem Sumpf hier,
lassen sich Saetze formulieren, die innerhalb des Systems
weder beweis- noch widerlegbar sind.

Diese Sätze nimm in die Hand
Und zieh!

 

Probleme.

 

1. Es gibt Probleme.
2. Es gibt zwei Klassen von Problemen.
2.1. Es gibt lösbare und unlösbare Probleme.
2.1.1. Es gibt zwei Klassen von lösbaren Problemen.
2.1.1.1. Es gibt lösbare Probleme, von denen sich beweisen lässt, dass sie lösbar sind. 2.1.1.2. Es gibt lösbare Probleme, von denen sich nicht beweisen lässt, dass sie lösbar [sind.
2.1.2. Es gibt zwei Klassen von unlösbaren Problemen.
2.1.2.1. Es gibt unlösbare Probleme, von denen sich nicht beweisen lässt, dass sie unlösbar sind.
2.1.2.2. Es gibt unlösbare Problemae, von denen sich beweisen lässt, dass sie unlösbar [sind.
3. Diese Probleme sind es, welche die Menschheit seit Menschengedenken zu lösen [versucht.

 

Ein letzter Beitrag zu der Frage ob Literatur?

 

Liebe Kollegen, ich versteh euch nicht.
Warum zitiert ihr immerfort Hegels Ästhetik and Lukács?
Warum bringt ihr euch Tag für Tag

Auf den historischen Stand?
Warum ärgert ihr euch über das
Was im Kursbuch steht?
Woher diese Angst, Klassiker zu werden
Oder im Gegenteil?
Und warum fürchtet ihr euch davor
Clowns zu sein?
Dem Volk zu dienen?

Umsatzsteuer zahlen
Die Gesellschaft verändern
Fussnoten machen, aber nicht zuviele
Klischees vermeiden
Kritisches Bewusstsein entwickeln:

Liebe Brüder in Apoll,
Das ist ja alles ganz schön
Aber warum habt ihr soviel Angst
Dass die Kritiker Kuckuck rufen
Dass die Medien
Dass die
Arbeitswelt
Dass der Trend?
Schon gut schon gut,
Ich weiss ja,
Aber das ist doch alles kein Grund.

Ich sage euch:
Fürchtet euch nicht!
Greift in die Tasten
Greift wohin ihr wollt!

“Nimm dir den Rauch von meinen Lippen,
nimm dir den Duft von meiner Brust,
lass mich an deinen Rosen nippen…”
Mir gefällt sowas.
Wenigstens im Moment.
Euch nicht.
Macht was anderes!

Mit taktischem Geschick den Tigerberg erobern
Oder
Frau Brigitte berät Sie in allen Lebenslagen.
Auch leere Seiten dürfen gedruckt werden,
Sehtexte auf Wursthäuten,
Posters für eine bessere Welt.

Fürchtet euch nicht!
Krümmt euch vor Anstrengung
oder schiebt eine ruhige Kugel,
aber habt keine Angst.
Es kommt nicht auf uns an.
Dafür werden wir doch bezahlt.

Warum gebt ihr nicht zu
was mit euch los ist
und was euch gefällt?
Ein einziges Mal,
nur ein Vierteljahr lang,
zur Probe!
Dann wollen wir weitersehen.

Niemand tut euch was.

Umsatzsteuer zahlen
Die Gesellschaft verändern
Fussnoten machen, aber nicht zuviele
Klischees vermeiden
Kritisches Bewusstsein entwickeln:

Liebe Brüder in Apoll,
Das ist ja alles ganz schön
Aber warum habt ihr soviel Angst
Dass die Kritiker Kuckuck rufen
Dass die Medien
Dass die
Arbeitswelt
Dass der Trend?
Schon gut schon gut,
Ich weiss ja,
Aber das ist doch alles kein Grund.

Ich sage euch:
Fürchtet euch nicht!
Greift in die Tasten
Greift wohin ihr wollt!

“Nimm dir den Rauch von meinen Lippen,
nimm dir den Duft von meiner Brust,
lass mich an deinen Rosen nippen…”
Mir gefällt sowas.
Wenigstens im Moment.
Euch nicht.
Macht was anderes!

Mit taktischem Geschick den Tigerberg erobern
Oder
Frau Brigitte berät Sie in allen Lebenslagen.
Auch leere Seiten dürfen gedruckt werden,
Sehtexte auf Wursthäuten,
Posters für eine bessere Welt.

Fürchtet euch nicht!
Krümmt euch vor Anstrengung
oder schiebt eine ruhige Kugel,
aber habt keine Angst.
Es kommt nicht auf uns an.
Dafür werden wir doch bezahlt.

Warum gebt ihr nicht zu
was mit euch los ist
und was euch gefällt?
Ein einziges Mal,
nur ein Vierteljahr lang,
zur Probe!
Dann wollen wir weitersehen.

Niemand tut euch was.

 

Eventuell.

 

Vorläufig bin ich noch da. Ich harre aus,
wie dort oben der schwarze Nachtfalter
an der weißen Wand. Ich rühre mich nicht.
Einstweilig sind meine Verfügungen.
Nirgends ein Heureka. Nur ab und zu

winzige Offenbarungen, millimetertief,
vorübergehend wie das Glück, wie der Rauch
der beinahe letzten Zigarette.

Das meiste verdunstet wie das Parfum in einer Flasche,
die den Stöpsel eingebüßt hat.
Die Astrophysiker sagen,
selbst die Sonne sei nicht so dauerhaft,
wie sie scheint. Die letzte Instanz
ist bloß eine Kneipe, in der die Anwälte
ihre Zeit totschlagen.

Das Jüngste Gericht läßt auf sich warten.
Geduld, sag ich mir, nur keine Panik!
Wer weiß, ob auf die Vergänglichkeit
wirklich Verlaß ist. Nur der Tod,
sagen die Sterblichen, sei definitiv.

Doch ob wir beide erwachen
sobald die Posaune erschallt,
ob wir sie bemerken werden,
unsere Wiedergeburt,
ich und die dunkle Motte dort?


> Assine a Cult. A mais longeva revista de cultura do Brasil precisa de você

Deixe o seu comentário

TV Cult